terça-feira, 27 de dezembro de 2011

5 discos de 2011


05 >> Metals, Feist
Nunca fui fã de Feist. Pra mim, The Reminder, que fez a moça estourar no mundo inteiro, é um disco com ótimos singles e várias músicas chatas. Eu ficava especialmente incomodado com a qualidade de gravação de algumas canções, que pareciam ter tirado a voz da cantora do fundo de uma lata. Graças a Deus isso não acontece em Metals. É um álbum coeso, redondo, tranquilo - sem levar em consideração, claro, a explosão no refrão de "A Commotion" ou os maravilhosos crescendos de "The Circle Married The Line" e "Comfort Me". Não há nenhum vestígio de "1 2 3 4"; nenhuma música daqui poderia ser utilizada num comercial da Apple. Pode ser que Feist veja sua base de fãs diminuída, mas a impressão nítida é que ela fez exatamente o disco que queria. Comercialmente um passo atrás, artisticamente dois passos à frente.
melhores músicas >> Comfort Me, Caught a Long Wind, The Circle Married The Line
melhor momento >> Em Comfort Me, Feist e seu coro de backing vocals viram pássaros: "Eeh hee hee! Eeh hee hee hee hee, hee hee!"


04 >> Talk That Talk, Rihanna
Passei 2011 inteiro esperando um grande disco de pop. Por mais que eu goste de algumas músicas nos discos de Beyoncé e Lady GaGa, por exemplo, nada lançado no ano me seduziu por inteiro. Eis que chega Rihanna e, de supetão, me arrebata. Na verdade durante todo o ano fui sendo seduzido pela garota - o clipe de "S&M", um show ótimo em BH, o comportamento gente-como-a-gente no Brasil -, mas ainda faltava um disco inteiro bom. Talk That Talk é esse disco. Junto com um par de músicas dançantes impecáveis ("We Found Love", um dos melhores singles do ano, e "Where Have You Been"), o disco tem sample de The xx ("Drunk on Love"), aromas caribenhos ("You Da One") e muita safadeza. É no auge da sacanagem, aliás, que Rihanna me surpreendeu: na curtíssima "Birthday Cake", fica claro a versatilidade vocal de RiRi. Ela pode ser dominadora num verso e falsamente inocente no outro. Talk That Talk é a coroação de Rihanna como a mais divertida das divas do pop feito nos EUA.
melhores músicas >> Where Have You Been, We Found Love, Drunk on Love
melhor momento >> "And it's not even my birthday...", em Birthday Cake. Dá pra visualizar até o dedinho na boca. Safada!


03 >> Wounded Rhymes, Lykke Li
Youth Novels, o disco de estréia de Lykke, tem vários momentos sensacionais: "Little Bit", "I'm Good I'm Gone". Mas também sofre de uma overdose de fofura, principalmente na voz dela - que às vezes é similar à de um bebê. O que o sucesso pode fazer com uma pessoa! Neste Wounded Rhymes, Lykke está muito mais durona, tanto musicalmente quanto na própria voz. É um disco cheio de tambores, bateria e percussão. Junte-se isso a órgãos de filme de terror e o resultado é uma sonoridade única; é como se Lykke estivesse musicando um faroeste moderno com elementos de suspense. A voz da cantora evoluiu barbaridades: ela pode ser autoritária em "Get Some", assustadora ao stalkear amantes em "Jerome" e "I Follow Rivers", melancólica em "Unrequited Love". Mas é em "I Know Places" que Lykke consegue ser melhor ainda: ao menos durante uma música, a sueca paira acima dos mortais com seu amor.
melhores músicas >> I Know Places, Youth Knows No Pain, I Follow Rivers
melhor momento >> "I'm your prostitute, you gon' get some!" em Get Some. É praticamente uma ameaça


02 >> Blood Pressures, The Kills
Midnight Boom, o disco anterior da dupla, é das melhores coisas do indie rock da década passada. É rápido, é dançante, é sexy, é absurdamente "repetível". Em Blood Pressures eles botam o pé no freio, mas só um pouquinho. Alguns elementos surpreendem: uma percussão de bolinha de ping-pong (!) em "Nail in My Coffin" e "Heart is a Beating Drum"; a guitarra que soa como uma enxada em "Satellite"; o interlúdio de cabaré em "Wild Charms". O sex appeal continua todo lá, com Jamie Hince e Alison Mosshart compondo canções como o Mickey e a Mallory Knox (de Assassinos por Natureza) da música. E para provar que são humanos, também há espaço pra melancolia (na magnífica "Pots and Pans", que encerra o disco com nostalgia). O The Kills é uma banda rara: eles parecem cool até a medula, e realmente são cool até a medula no que importa: em disco.
melhores músicas >> Baby Says, Heart is a Beating Drum, Pots and Pans
melhor momento >> A guitarra incrível de Baby Says, a tradução perfeita de "pôr o pé na estrada"


01 >> The Deep Field, Joan as Police Woman
Todo mundo que me conhece sabe do meu amor por essa mulher. Em 2011 ela virou de vez minha artista favorita da atualidade: foi disco, show e a oportunidade inesquecível de conversar com ela ao vivo (ela foi toda a simpatia que eu imaginava). Em The Deep Field, seu terceiro disco de inéditas, Joan Wasser surge mais otimista, declarando de cara, sem desespero: "I want you to fall in love with me". É uma ordem sim, mas uma ordem suave, determinada. O clima é suave e esquisito ao mesmo tempo: maravilhosas linhas de baixo se misturam com vocais masculinos que sussurram ameaçadores ("Flash") ou repetem o título da música o tempo todo ao fundo ("Human Condition"). É essa mistura que faz de Joan uma artista única. Junte-se a isso todo um cuidado com as letras, que seguem sendo honestas como nunca em relação ao amor. Talvez eu calhe de estar numa fase onde versos como "Cause stop doesn't mean a thing in love / I've only started to enjoy it" me digam mais do que a maior parte das músicas feitas atualmente. Que bom que eu tenho alguém como Joan para traduzir meu sentimento em música.
melhores músicas >> Human Condition, The Action Man, Kiss The Specifics
melhor momento >> Em Kiss The Specifics, Joan mistura em uma frase doses exatas de otimismo, ingenuidade e segurança: "I'll never be careful what I wish for / Cause I what wish for is always right"

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

As melhores músicas de 2011

Desde 2001, todo fim de ano eu faço uma coletânea com as melhores músicas dos últimos 12 meses. Essas foram minhas escolhas para 2011 - e o que você pode fazer com cada uma delas!
(na ordem em que eu visualizei a coletânea)


Hello, Martin Solveig
Onde o produtor francês constrói uma música pop em que ficamos o tempo todo esperando dona Martina Dragonette Sorbara cantar uma singela frase: "I just came to say hello!" Hello de volta, Solveig. Agora que já fomos apresentados, vamos ajudar Madonna a lançar um grande disco de novo?
Boa para: jogar tênis; dar uma cantada tímida



Abducted, Cults
Duplinha diabólica, essa do Cults: uma batida inocente, fofa, pra cima, escondendo uma letra que é um verdadeiro filme de terror para os românticos: "He tore me apart because I really loved him". Incongruência que parece trilha sonora de um baile de formatura bem, hmmm, cult.
Boa para: dançar alegrinho numa pista alternativa; bater palmas junto



Rumour Has It, Adele
No melhor momento do multiplatinado 21, Adele lança raios de fúria nas supostas amigas que inventam rumores sobre ela. E musicalmente a inglesa recria "Fast as You Can", da Fiona Apple. Win win! E Adele, cuidado com as mafiosas de plantão!
Boa para: atirar dardos em fotos de ex-amigo(a)s; comer Twix



Suzanne & I, Anna Calvi
La Calvi esbanja talento na guitarra - e pra ópera! - com seus acordes e trinados nessa homenagem rock'n'roll à tal Suzanne do título. Será Suzanne Vega? Será "Suzanne" Vieira?
Boa para: imitar uma cantora de ópera; assistir Twin Peaks



Please Ask for Help, Telekinesis
Nada de novo no front, mas tente resistir à guitarrinha New Order que acompanha a música desde o início. O indie rock às vezes precisa é disso: muita despretensão acompanhada de talento.
Boa para: air guitar; aulas de código Morse



Where Have You Been, Rihanna
Mega bate-cabelo da caribenha. É daquelas músicas de fazer a pista inteira cantar/gritar junto. E se você tem alguém pra quem dedicar a letra, você tem muita sorte!
Boa para: se jogar como se não houvesse amanhã; lip sync for your life!



Otis, Jay-Z & Kanye West
O maior rapper dos Estados Unidos se junta ao mais talentoso. O resultado? Um disco abarrotado de momentos ricos e esbanjadores, mas também divertidíssimos e alto astral. Bora fingir ser rico também?
Boa para: dirigir seu carrão; nadar na sua piscina olímpica



Another Luvr, Teedra Moses
Enquanto o segundo disco não vem, The Young Lioness continua lançando música gratuita - e boa! - ano após ano. E segue sendo o segredo mais bem guardado do R&B.
Boa para: danças do acasalamento; vinhos



Big Fat Bass, Britney Spears
Our Lady of Cheetos! Com ajuda do onipresente Will.I.Am, Britney vira um robozinho pedindo que seu amante seja o "baixo" dela. Entendam como quiserem. Mas a música é boa!
Boa para: danças do robô; aulas de spinning



Pumped Up Kicks, Foster The People
Eles começaram o ano como uma banda desconhecida. Viraram queridinhos dos indies. E terminam 2011 como queridões de todo mundo. O poder dessa música é mesmo impressionante! Eu que o diga: foi sensacional ver todos os funcionários de uma loja em Londres dançando ao som dela.
Boa para: suspirar pelos bonitões da banda; bater o pezinho junto



Money, The Drums
O segundo disco da banda me decepcionou. Mas este primeiro single é fantástico - tudo que uma boa summer song precisa. Uuuuuuhs, um riff de guitarra esperto, letra divertida e com uma profundidade inesperada. Das coisas mais grudentas que ouvi em 2011.
Boa para: não comprar presentes; fazer este símbolo ¯\_(ツ)_/¯



Surgeon, St. Vincent
Annie Clark parece tão fofa! Tão gracinha! Tão professora de violino! Isso até você ouvir qualquer música do disco novo dela. Essa aqui tem um coro distorcido, efeitos de bambear as pernas e um solo de guitarra esquizofrênico. As aparências enganam!
Boa para: cirurgia plástica; brincar com o cachorro



The Edge of Glory, Lady GaGa
A única música do Born This Way que eu realmente amo. Mas que música! Hino eterno. Além disso, continua sendo a melhor contribuição para o "summer of sax" de 2011.
Boa para: declarações de amor de uma noite; air saxofone



Take Care, Drake
Onde Drake, acompanhado de Rihanna, interpreta uma canção originalmente de Gil Scott-Heron, que havia sido retrabalhada pelo Jamie XX. Confuso? Não se preocupe. Tudo funciona. E RiRi é um ser abençoado cantando "I'll take care of you".
Boa para: ter fé no futuro; noites a dois



Baby Says, The Kills
Sabe quando dá vontade de botar o pé na estrada, fazer uma viagem de carro, dar uma de Thelma e/ou Louise, ficar apaixonado de novo? Jamie Hince e Alison Mosshart sabem. E enchem meu coração de vida sempre que ouço essa música. Uma das melhores do ano!
Boa para: viagens; travestismo



Blue Jeans, Lana Del Rey
A Angelina Jolie da música virou a sensação entre os "alternativos" com somente duas canções. Curto mais este lado B que o lado A. Viva o climão de máfia, crimes, amor e vingança! Mesmo que seja tudo fabricado pela gravadora. Quem se importa?
Boa para: assistir Assassinos por Natureza; implante de colágeno



Rather Die Young, Beyoncé
Queen B chama seu homem de James Dean (a segunda música dessa lista que cita o ator) e diz que prefere morrer a viver sem ele. Drama pouco é bobagem, né? Seria facilmente descartável se não fosse um dos refrões mais incríveis do ano. Não consegui parar de ouvir desde sempre.
Boa para: fazer drama com as mãos; tentativas de suicídio passional



Shock to My System, Gemma Hayes
A irlandesa agora está independente, mas continua fazendo suas pérolas pop - humildes, escondidas, mas que são verdadeiros tesouros. "I was born awake. Little by little I simply fell asleep. Then you came. It all changed." E eu, mais uma vez, me rendo à linda Gemma.
Boa para: agradecer pela graça alcançada; ser feliz



Human Condition, Joan as Police Woman
Joan deve ser uma das cantoras com mais fé na humanidade. Aqui ela elogia o tanto de amor nas mãos dos humanos, e diz que para viver bem é indispensável sorrir para estranhos. Joan, eu sempre sorrio ouvindo você. Obrigado por um 2011 incrível.
Boa para: sorrir para estranhos; sorrir para si mesmo



Copenhagen, Lucinda Williams
Lucinda recebe a notícia da morte de alguém querido e denuncia a própria idade - "57, but I could be 7 years old". E traduz um sentimento pelo qual infelizmente todos nós vamos passar, mais cedo ou mais tarde.
Boa para: honrar os que se foram; refletir



So Gone (What My Mind Says), Jill Scott
Jilly from Philly cantando sobre resistir a ir pra cama com alguém que não merece - e não conseguindo. Quem nunca? Mas poucos constroem batidas tão elegantes enquanto cantam sobre a fraqueza da carne.
Boa para: ligar o foda-se e ir com tudo; arrepender-se depois



The Party & The After Party, The Weeknd
O projeto mais misterioso de 2011 pega a base de uma canção do Beach House e faz uma longa - e sinuosa - canção que é puro sexo. E precisa ser ouvida à noite. Nenhuma mixtape de fazer-amor-gostoso-em-2011 está completa sem essa música.
Boa para: beber champagne; transar



I Know Places, Lykke Li
Seja na Lua, seja no aparelho de som, seja num festival de música em Paris; Lykke construiu uma das declarações de amor mais bonitas, e esparsas, do ano. "I know places we can go, baby". Onde, Lykke? Oras, você é o ouvinte. Você responde. Apenas se emocione.
Boa para: ver a Lua; ouvir abraçado



Dark Turn of Mind, Gillian Welch
Gillian demorou oito anos para lançar um disco. E quando ouve-se canções delicadas como essa, fica o maravilhamento: essa é daquelas canções tão simples, mas tão simples, que são mesmo verdadeiros trabalhos árduos. É comovente na sua humildade.
Boa para: sítios; momentos de quase silêncio



Comfort Me, Feist
É Feist fazendo o que ela faz melhor no seu disco Metals: construir músicas que começam calmas, aparentemente relaxadas, que de repente explodem numa maravilha de percussão, cantos de pássaro e coros. Eeh-hee-hee, Feist! Simples assim. Agora sim a senhorita conseguiu me conquistar.
Boa para: natureza; bipolaridade



PS: Nos comentários há um link para quem quiser baixar todas as músicas.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Hanna



Hanna é um estranho filme de ação. Mas no melhor sentido da palavra. É original, inventivo, conta com locações sensacionais. Pelo menos uma brilhante sequência de perseguição. Uma trilha sonora excitante feita pela dupla Chemical Brothers. E é dirigido por Joe Wright, conhecido pelos sgitadíssimos... Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação.

Oi?, você pode dizer. É isso mesmo. Após ver o filme, li no IMDb que o projeto originalmente seria dirigido por Danny Boyle. Faz mais sentido. Mas fico feliz que Joe Wright tenha entrado na dança. Primeiro, porque ele prova que seu imenso talento vai além dos filmes de época. Segundo, porque ele traz ao filme uma atmosfera peculiar. As cenas com edição frenética aparecem nos momentos exatos. E há um calor humano diferente de Quem quer ser um milionário, por exemplo. Aqui, importa menos por que os personagens agem como agem, e sim a relação entre eles.

Temos a jovem Hanna (Saoirse Ronan) e seu pai (Eric Bana), que moram numa floresta gelada na Finlândia. Desde o início, Hanna é um personagem único: treinada pelo pai a falar várias línguas, utilizar o arco e flecha e se defender numa luta, ela no entanto não sabe o que é música. Desde o início somos arrebatados por essa loirice misteriosa. E há Marissa Wiegler (Cate Blanchett), uma agente secreta motherfucker que de alguma forma está envolvida com os dois.



O filme é uma espécie de Jason Bourne + Kill Bill, juntando a universalidade dos filmes da série Bourne (Hanna passa por pelo menos dois continentes) e os visuais e a sede de vingança da Beatrix Kiddo dos filmes de Tarantino. O grande diferencial, no entanto, é o talento de Saoirse Ronan. Ela não é somente brilhante; ela é crível. Acreditamos que ela tem toda a força física, e determinação, para fazer as coisas que ela faz. E nos momentos mais calmos, toda a inocência e ingenuidade de Hanna afloram. Desde já ela é uma das grandes heroínas do cinema de ação dos últimos tempos.

É um pecado que Hanna tenha saído no Brasil direto em DVD. O filme é um prazer para os olhos - principalmente durante o clímax em um parque inspirado nos Irmãos Grimm - e para os ouvidos (não consigo parar de ouvir a trilha dos Chemical Bros.). É um filme para ser descoberto, e adorado. E revisto!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um Dia (One Day)



É comum um bom livro ser mal adaptado para o cinema. Pode-se culpar o diretor, uma escolha ruim de elenco, ou simplesmente a falta de talento ao transpor as palavras para a tela. Mas e quando se conta com uma boa diretora, uma dupla de atores carismáticos e uma adaptação assinada pelo próprio autor do livro? Onde botar a culpa da ruindade?

Este é o caso de Um Dia, que em vários momentos parece estar escrevendo uma cartilha de como NÃO fazer um bom romance. Não li o livro de David Nicholls, mas foram tantos os elogios à obra (vindos inclusive de bons amigos) que acredito que o livro seja mesmo bacana. O filme, no entanto, pratica um desserviço com o livro: minha vontade de lê-lo caiu pra quase zero.

Os problemas começam nos primeiros minutos. A ideia principal é a seguinte: um casal de estudantes passa uma noite/madrugada juntos em 15 de julho de 1988. A partir daí, o filme mostra os encontros e desencontros da dupla nos anos seguintes, sempre no dia 15 de julho. O problema é que o primeiro encontro entre Dexter (Jim Sturgess) e Emma (Anne Hathaway) não é promissor, não é cativante, não é charmoso. É qualquer coisa. Ela está obviamente interessada nele, e ele parece ter vontade de dar uns tapinhas na cabeça dela, como se faz com um cachorro que queremos que vá embora logo. Então por que eles continuam se encontrando, como se houvesse rolado uma química incrível desde o início? O filme não mostra isso.

A partir daí, vamos conhecendo melhor Emma e Dexter. Emma é boazinha, quer ser escritora, mas vive frustrada em Londres trabalhando num restaurante mexicano trash. Dexter é um cafajeste simpático, womanizer, que apresenta um programa sem noção na TV britânica. Qual deles é o mais cativante? Surpresa! A Emma de Anne Hathaway é tão apagada que eu me peguei esperando pelas cenas com Dexter. Ao menos a mãe dele é a sempre brilhante Patricia Clarkson, na melhor atuação do filme.

Um Dia vai caminhando capenga, e não cumprindo nada do que deveria fazer: não emociona. É bem pouco engraçado. Alguns dias 15 de julho são absolutamente dispensáveis. Mas pelo menos o filme passa rápido. Isso até o final inacreditável. Sério. Ou melhor, não tem como levar aquilo a sério. É feito pra emocionar, mas eu (e umas meninas que estavam na sessão) caímos na gargalhada. É muito ruim. É forçado e trash. Novela mexicana perde.

E isso tudo é mais chocante quando se pensa que a diretora dessa anomalia é Lone Scherfig, dos excelentes Educação e Italiano para Principiantes. O que aconteceu? O que ficou lost in translation? Não faço ideia. Só sei que, nesse caso, o fracasso de crítica e de público foram muito merecidos. Não perca seu tempo vendo Um Dia.

domingo, 20 de novembro de 2011

Trabalhar Cansa



O trabalho endurece o homem. Essa deturpação do ditado poderia muito bem ser aplicada a Helena, a protagonista de Trabalhar Cansa. À medida em que vai administrando o mercado recém-inaugurado que montou, Helena vai ficando mais dura com os funcionários; se recusa a acreditar que um deles não está roubando produtos; passa a revistar a bolsa de uma caixa de comportamento exemplar; trata mal o marido desempregado. Mas essas atitudes não dominam a história, e a mudança na atitude de Helena não é mostrada do modo mais óbvio. Essa é uma das melhores qualidades de Trabalhar Cansa: o filme não quer enfiar nada goela abaixo do espectador. As mudanças de Helena, por exemplo, podem ser conferidas em sutilezas que enriquecem a obra: como uma simpática placa de "volte sempre" é substituída por um seco sinal escrito "saída", por exemplo.

Trabalhar Cansa não é um filme fácil. É lento, e deixa várias coisas sem explicação. Mas tem uma qualidade rara no cinema nacional: é intrigante. O que aquela mancha na parede quer dizer? E uma foto encontrada no supermercado vazio? Assim como um bom David Lynch, é filme pra ser discutido com os amigos depois. Por isso o fato de o filme ter entrado em cartaz em BH em apenas uma sala, em um horário, é frustrante. Mas não deixe isso te desanimar. É raro um filme nacional ser original assim sem ser pretensioso.



Confesso que saí da sessão sem entender várias coisas. Mas, graças a contatos com pessoas diretamente envolvidas com o filme, entendi algumas coisas e gostei ainda mais do que vi. Ok, eu sou da opinião que um filme deve ser apreciado por si só, sem explicações do diretor ou da equipe. Mas e quando a explicação enriquece muito a obra? Não é o mesmo quando um artista diz o que está por trás de uma canção, e você passa a achar a canção três vezes mais foda? E eu sou uma pessoa que adora discussões pós-filme: sou daqueles que nunca adivinham quem é o assassino na série Pânico, e nem desconfiei da reviravolta de O Sexto Sentido (agora eu posso queimar meu filme por completo e dizer que demorei 10 minutos para perceber que a personagem de Bryce Dallas Howard em A Vila é cega. Adeus, credibilidade!).

Isso tudo é minha forma de te convencer a assistir Trabalhar Cansa. Desde o título ótimo, é um filme instigante. Num ano em que o cinema nacional foi bem mais ou menos (na minha opinião), eis aqui uma obra que encasquetou de ficar na minha cabeça. E se você assistir e quiser gritar comigo, "Então me explica aquela disgrama de foto!", eu o farei de bom grado.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Toda Forma de Amor (Beginners)



A premissa de Toda Forma de Amor é simples e inusitada: Oliver acaba de perder o pai, vítima de câncer. Logo após a morte da mulher, cinco anos antes, Hal assumira a homossexualidade para o filho. Ao mesmo tempo em que Oliver conhece a charmosa atriz Anna, ele rememora momentos desses últimos cinco anos ao lado do pai.

É uma história simples porém complexa, como diz um amigo meu. Um filme mais convencional teria vários momentos de confronto entre pai e filho; filho acusando o pai de enganar a mãe; pai tentando reconquistar o amor do filho; charmosa atriz chocada com a revelação do sogrão. Mas Toda Forma de Amor (até curto essa tradução, mas somente por causa da referência a Lulu Santos) não é um filme comum! Seja pelo elenco brilhante, pelos diálogos muito bem escritos ou pelo fato de que temos um cachorro que conversa com o protagonista.

O fato de Hal se assumir gay é apenas mais um elemento na história; uma característica até então desconhecida para seu filho. O efeito seria o mesmo se, digamos, Hal tivesse uma amante e decidisse morar com ela após ficar viúvo. O filme não trata a condição sexual de Hal como tema principal. Mais importante é mostrar como a nova alegria de viver de Hal - incluindo um namorado mais novo e muito amoroso - afeta a vida do próprio Oliver.



Relembrando os momentos compartilhados com o pai doente - e também memórias de infância, com a mãe de humor peculiar -, Oliver tenta lidar com o fato de que, aos 38 anos, está se descobrindo apaixonado de novo pela bela Anna. É possível aos 38 anos ainda se apaixonar de forma completamente aberta? Vale a pena encarar o fato de que somos sempre iniciantes (como diz o título original) no amor, ou é melhor usar todas as decepções passadas como armadura?

Otimista e esperançoso como é, Toda Forma de Amor aposta na primeira opção. Não há um pingo de cinismo no filme - o que é um oásis em meio a tanta comédia romântica malfeita que existe por aí. O protagonista não precisa de um antagonista (sinceramente, em quantas situações na vida real existe um "vilão" para atrapalhar o romance nosso de cada dia?); os problemas estão dentro de nós. O trio principal de Toda Forma de Amor quer somente as coisas mais simples: ser feliz. Ter momentos bobos/divertidos/hilários, como todo casal inteligente. E o filme de Mike Mills está cheio de momentos assim. É pequeno na apresentação, mas tem um coração gigantesco, absurdo de pulsante.

E eu falei do cachorro que conversa com Oliver?

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Gigantes de Aço (Real Steel)



Uma das qualidades de Gigantes de Aço é que, logo de cara, o filme já diz ao espectador se ele vai ou não gostar do que vai assistir. Temos uma arena de rodeio, Hugh Jackman, e um duelo entre um touro bravio e um robô. A ideia é tão absurda que ou você acha ridículo ou pensa, "Esse filme vai ser uma pândega!". Eu fui com a segunda opção.

Gigantes de Aço é uma espécie de atualização daquele tipo de filme trash que o Stallone fazia nos anos 80, sobre um cara durão que descobre que tem um filho e acaba amolecido pela fofura da criança. Aqui acontece a mesma coisa, mas com todo o carisma de Hugh Jackman e o talento do garoto Dakota Goyo, que é fofo na medida certa (e tem o entusiasmo infantil na medida certa também). E os efeitos especiais dos robôs são muito bons.

A gente já sabe tudo que vai acontecer, e o filme tem um monte de clichês pra fazer o espectador ficar emocionado/passar raiva/gritar YES!. Mas se tudo isso é divertido e bem feito, qual o problema? E algumas coisas são tão absurdas que adicionam charme sem noção ao filme: o brutamontes Charlie (Jackman) chega a vender o filho! Alô, Central do Brasil!

Com um duelo final que traz Rocky para o campo dos filmes de ficção, Gigantes de Aço é uma grata surpresa. Mas deixe o gosto refinado de lado. O que é servido aqui é um bom pratão de arroz, tropeiro e batata frita. E se algum torresmo a princípio tem um aspecto duvidoso, pode comer que é delícia. Você não gosta de torresmo? Sai daqui!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Contra o Tempo (Source Code)



Contra o Tempo começa com uma série de imagens maravilhosas de uma cidade americana. Fiquei imediatamente arrebatado com aquela cidade cheia de canais e arranha-céus. "Que cidade é essa?", pensei, do alto da minha falta de conhecimento. Era Chicago, alvo de um ataque terrorista que matou todos os passageiros de um trem. E é a missão de Colter Stevens descobrir quem é o responsável pelo ataque. Em oito minutos. Antes que uma série de ataques faça mais vítimas em Chicago.

Com aquelas imagens sensacionais da cidade, o filme arrebata o espectador de cara. O diretor Duncan Jones tem um olho fantástico para o visual (o que pode fazer toda a diferença num filme de ficção científica). Mas, graças a Deus, os talentos de Jones não param por aí. Contra o Tempo é enxuto, é tenso, e é extremamente bem atuado. Jake Gyllenhaal é a escolha ideal para o papel. Jeffrey Wright está impecável como sempre. E Vera Farmiga é o retrato da burocracia (a princípio), e vai aos poucos revelando todos os conflitos de ser o "rosto" responsável pela vida de Colter Stevens.

E quando Contra o Tempo vai caminhando para o fim, você vai percebendo que o filme é uma espécie de irmão de Agentes do Destino, com Matt Damon e Emily Blunt. É uma ficção do amor. O auge ocorre em uma das cenas mais belas de 2011: uma cämera percorre todos os passageiros do trem, em modo de pausa, e escancara o coração do filme. Mais do que uma ficção muito bem realizada, este é um filme cheio de fé e amor pela humanidade. E nesse momento a obra me ganhou por completo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Amizade Colorida (Friends With Benefits)



Falar durante o sexo pode ser uma delícia - desde que feito da maneira certa. Tem que saber falar, com quem falar, e em que situação falar. Os protagonistas de Amizade Colorida adoram falar durante o sexo. E como falam. Só que não é excitante. Nem um pouco. E olha que estamos falando de Justin Timberlake e Mila Kunis - lindos, gostosos, bundinhas apetitosas. Mas é tanto pedido, tanta restrição ("Beije meu queixo" "Não encoste nos meus mamilos" "Acaricie minha nuca") que o tesão vai pelo ralo.

Tá, eu sei, a ideia é fazer rir e não necessariamente excitar. Mas talvez esse seja meu problema com o filme: preferia uma comédia mais safada. Os diálogos são tão espertinhos, tão cool, que às vezes o casal parece não existir de verdade. É uma série de páginas de frases de efeito. Quando em doses homeopáticas, funciona muito melhor - por isso os coadjuvantes Patricia Clarkson e Woody Harrelson roubam todas as cenas em que aparecem.

O filme do diretor Will Gluck, A Mentira (Easy A) também é recheado de diálogos espertos. Mas funciona porque a protagonista é sensacional, cativante, charmosa. Mila Kunis também é tudo isso, mas tem que dividir a cena com Justin Timberlake... que, ok, é esforçado e carismático. Mas é tão nítida a diferença entre os dois: Mila é toda natural (alô, garota da laje revoltada!), espontânea, faz tudo parecer facílimo. Já Justin está sempre querendo jogar um pouco daquele charme SexyBack no filme, introduzir a persona Justin Timberlake em vez de atuar em tempo integral.

No fim das contas acho que gostei mais de Sexo sem Compromisso, o mesmo filme só que estrelado por Natalie Portman e Ashton Kutcher. É menos inventivo e mais formulaico, mas me deixou mais com aquela sensação de "aaaah, eles TÊM que ficar juntos". Nesse Amizade Colorida, mesmo com a ajuda da excelente "Closing Time" do Semisonic, eu não estava muito interessado no desfecho. Que tal fazer um filme com Emma Stone e Andy Samberg, que aparecem no início da história como os ex? Esse eu veria mais animado ainda.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids)



Comédia é, em alguns aspectos, o gênero mais difícil que existe. Sustos, é fácil provocar. Drama, as pessoas geralmente ficam comovidas pelas mesmas coisas. Romance, se você colocar diálogos inteligentes e personagens cativantes, dá pra seduzir até o mais pedante dos críticos. Mas risadas? As pessoas riem de coisas tão diferentes. O público americano parece gostar cada vez mais de humor de banheiro (aquele que envolve peidos, merda e coisas do tipo); eu abomino. Os ingleses amam humor negro, mas nem todo mundo curte. E por aí vai. Eu gargalhei em Saló, e praticamente não dei risada em Se Beber, Não Case.

Ver um filme como Missão Madrinha de Casamento, pra mim, é realmente um evento. São 125 minutos que passam super rápido, e abarrotados de risadas. Risadas não, gargalhadas. Em determinadas sequências eu tive que colocar a mão na boca pra não ter um ataque histérico. Tudo isso aliado a atuações incríveis e a um roteiro que, nas partes mais dramáticas, também convence (e às vezes te faz gargalhar no meio de um diálogo sério).

O filme não inventa nada de novo em relação às comédias/comédias românticas. A protagonista, Annie (Kristen Wiig), é daquelas que existem aos montes por aí: loser, com a vida dando errado, namorado escroto (mas geralmente os filmes assim são protagonizados por homens). Só que o filme não fica mostrando Annie como uma fofa coitadinha e azarada. Ela é egoísta e desiste fácil. À medida que a história vai passando, uma coisa fica clara: a vida de Annie é assim porque, de certa forma, ela merece.



Mas eu estou falando do filme como se ele fosse um drama! E não é. A partir do momento em que Annie é convidada para ser a madrinha de Lillian (Maya Rudolph), é difícil ficar com os músculos da cara descansados. A turma de damas de honra é sensacional - todas com suas características divertidas, como a mãe que abomina os filhos e a gordinha que é cheia de autoconfiança e malemolência agressiva. Mesmo a "inimiga" de Annie, a toda-perfeitinha-e-sorriso-de-Cleycianne Helen (Rose Byrne), é hilária com suas roupas over, sorriso que nunca sai do rosto e "how cute!" pra cá, "how cute!" pra lá.

Uma das melhores coisas de Missão Madrinha de Casamento é que o filme consegue colocar as personagens em situações humilhantes sem constranger o espectador. Temos até - O HORROR! - uma sequência envolvendo fluidos corporais. Mas a reação não é "que nojo!", ou "que desnecessário!"; e sim, "MEU DEUS!", "Como eles tiveram a coragem de mostrar algo tão absurdo e conseguiram com que fosse engraçado?". Porque é. A imagem de Maya Rudolph no meio da rua de vestido de noiva nunca mais vai sair da minha cabeça.



Mas o maior tesouro do filme é mesmo Kristen Wiig. Ela é um presente do Olimpo da comédia. Conheço pouco do que ela fez em Saturday Night Live, mas duvido que ela esteja melhor do que está aqui. Sua Annie é uma mulher totalmente tridimensional, crível, e MUITO engraçada. Acho humanamente impossível não rir da sequência do avião, que atinge níveis de histeria. Ou da sequência em que ela tenha chamar a atenção de um policial. Se o Oscar não tivesse tanto preconceito com atuações cômicas, Kristen mereceria fácil uma indicação. E até sei qual seria o clipe que a Academia deveria passar quando o nome dela fosse anunciado: a cena em que ela é desafiada por Helen dentro da loja de vestidos de noiva. É um prodígio de comicidade.

Por falar em Helen, Rose Byrne tem aqui seu melhor momento no cinema. A moça, que já tinha aparecido este ano no melhor filme de terror de 2011 (Sobrenatural), agora dá as caras na melhor comédia do ano. Do ano, dos últimos anos. Comédia que não é perfeita (eu poderia passar facilmente sem os roommates de Annie), mas que tem tanto humor e carinho pelos seus personagens que suplanta todos os defeitos.

E isso porque eu não falei de Rhodes. Ai, Rhodes. *suspiro*

domingo, 25 de setembro de 2011

Três parágrafos temáticos para Cowboys & Aliens



- Um parágrafo para o filme em si:

A ideia, toda resumida no título, é muito boa. Misturar faroeste com ficção científica: genial! Mas o filme nunca atinge o ponto do êxtase, aquela sensação de prazer infantil que os melhores filmes de aventura provocam. É muito bem feito, bem atuado (com uma notória exceção, que merece um parágrafo à parte), os efeitos especiais são ótimos e os aliens são excelentes. Mas, mesmo com o talento do diretor Jon Favreau (dos filmes Homem de Ferro), o filme fica no meio do caminho. Em compensação, o número de cenas em que um personagem-é-atingido-e-fala-uma-bela-frase-antes-de-morrer dá pra encher uns seis filmes.

- Um parágrafo para Daniel Craig:

Sorte de Cowboys & Aliens que o protagonista é Daniel Craig. Aquela cara toda talhada cai como uma luva para seu personagem - cowboy solitário, misterioso, apontado como ladrão. O ator tem carisma, a beleza rude adequada ao papel e um derrière que, além de me distrair em vários momentos, pra mim é o melhor efeito especial do filme. Um brinde a Daniel Craig!

- Um parágrafo para Olivia Wilde:

Olivia prova duas coisas no filme: que é uma das atrizes mais sem carisma da atualidade, e que é dona de uma das maiores testas de Hollywood. Caramba! A mulher passeia pra lá e pra cá com uma cara absolutamente vazia. E aquela testa toda lá, dominando tudo. E o que dizer do cabelo incrivelmente sedoso? No velho oeste? E a maquiagem perfeita, mesmo depois que ela cai num rio? Deu vontade de escrever na testa gigante dela: I CAN'T. É isso.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Medianeras



Quando A Rede Social estreou nos EUA, o critico da Rolling Stone americana, Peter Travers, escreveu uma resenha definindo a obra como "o filme de uma geração". Fico meio por entender a frase - já que A Rede Social não aborda, na prática, o efeito que as redes sociais tiveram em nossas vidas (e esse é justamente um dos diferenciais do filme de David Fincher).

Medianeras está longe de ser o filme de uma geração, mas sei que muita gente vai se identificar com Martín e Mariana, os vizinhos-que-não-se-conhecem e que passam a maior parte do tempo online. Aqui, sim, estamos falando dos efeitos práticos do excesso de vida online na vida real. Mas um dos maiores méritos do diretor Gustavo Taretto é não cair no clichê da nostalgia dos tempos antigos: "Ah, a internet isolou todos nós. Que vida triste a nossa. Que saudade dos contatos ao vivo!". Non. O filme simplesmente mostra a vida da geração atual como é. Ou melhor, mostra a vida de duas pessoas dessa geração atual. Nem todo mundo precisa se incluir nesse retrato.

O filme tem um ar melancólico sim, mas não é pesado em momento algum. O que mais sufoca é a profusão de apartamentos em Buenos Aires. Tantas quitinetes, tão poucas janelas! Medianeras explora muito bem os espaços urbanos: as fachadas dos prédios, as plantas que insistem em crescer nas rachaduras, as próprias "medianeras" em si (aquela parede "desperdiçada" que cada edifício tem). É um paraíso para os arquitetos - uma espécie de "Manhattan" do hemisfério sul. Não é à toa que o próprio filme de Woody Allen dá as caras em uma cena.



É um prazer ver um filme com tantas soluções visuais bacanas. As vitrines montadas por Mariana são um show à parte. De certa forma o filme me lembrou Cashback, na maneira como um espaço urbano limitado é palco para uma torrente de criatividade. E se pelo trailer Medianeras parecia ser somente um monte de cenas visualmente bonitas, o longa como um todo casa muito bem imagens, narração em off e diálogos.

No fim das contas é mais um filme no estilo "eles foram feitos pra ficar juntos". Mas a aproximação dos dois não parece forçada, ao contrário de tantos filmes por aí. Com uma última cena que não tem diálogo algum, Medianeras termina mostrando como as coisas da vida são: olhos nos olhos, um sorriso aqui, um sorriso ali em resposta. A vida virtual está aí pra ajudar a gente a ter isso, e não pra substituir. Gustavo Taretto é esperto e sabe disso.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Cinco filmes que quero muito ver

Os filmes listados abaixo estão para estrear ou acabaram de estrear nos Estados Unidos. No geral são filmes mais alternativos, embora Drive, por exemplo, tenha tido um lançamento grande lá fora. De qualquer forma, são cinco obras que me deixam bastante curioso. Seja pelo elenco, seja pelo diretor, seja por uma junção de fatores.


Your Sister's Sister
Por quê? O filme anterior da diretora Lynn Shelton, Humpday, tem uma premissa absurda: dois amigos heteros decidem, numa noite de bebedeira, fazer um filme pornô gay. Com eles mesmos atuando. O resultado é um filme surpreendentemente honesto e comovente sobre relacionamentos, amizade, e o que fazemos com a nossa vida. Agora a diretora mistura duas irmãs (Emily Blunt e Rosemarie DeWitt), uma delas lésbica, e o cunhado de uma delas, que acaba tendo um caso com... a lésbica. As críticas do Festival de Toronto aplaudiram os diálogos, em sua maioria improvisados pela diretora e pelos atores. E além da sempre ótima Emily Blunt, tem Rosemarie DeWitt, que me seduziu por completo em O Casamento de Rachel (além de ter uma participação marcante em Mad Men). Tô na fila já (do cinema ou do torrent, já que provavelmente esse filme nunca passará nos cinemas brasileiros).

The Guard
Por quê? O diretor, John Michael McDonagh, é irmão de Martin McDonagh - responsável pelo hilário e surpreendente Na Mira do Chefe (In Bruges). Esse The Guard, pelo que eu li, parece compartilhar um humor negro similar. Além disso, temos Brendan Gleeson - aquele tipo de ator que é sempre excelente no que faz, e nunca é o protagonista - no papel principal, acompanhado do super confiável Don Cheadle. Como se não bastasse, esse foi o único filme a ganhar cinco estrelas numa edição recente da Empire (revista inglesa de cinema, e pra mim a melhor da atualidade).


Drive
Por quê? De acordo com a maior parte da humanidade que já viu, este é "o filme cool do ano". Cool no melhor dos sentidos, claro. Aparentemente o diretor Nicolas Winding Refn recriou todo aquele clima de adoração de carros dos anos 80, criou para Ryan Gosling uma espécie de super-herói da vida real e temperou a obra com várias explosões espetaculares de violência. Adicione a isso duas musas (Carey Mulligan e Christina Hendricks), um prêmio de melhor direção em Cannes e demonstrações explícitas de carinho entre diretor e astro e pronto: estou super ansioso. Sobre o que é o filme? Não sei direito, e estou achando divertido não saber! Sei apenas que Gosling faz um dublê de cenas de perseguição de carros. Não parece o tipo de filme pelo qual Tarantino baba loucamente?

Shame
Por quê? O tema me atrai, e muito: compulsão sexual. Michael Fassbender (excelente como Magneto no mais recente X-Men) acaba de ganhar um prêmio de Melhor Ator em Veneza pela sua performance. Carey Mulligan (de novo) faz sua irmã, que aparece do nada para morar com ele. Um dos meus sites de cinema favoritos, o Rope of Silicon, disse que o filme deixa o espectador em pedaços. Ele chega a dizer que Mulligan está melhor ainda do que em Educação. Deve ser aquele tipo de filme forte demais pra Academia, mas que figura em qualquer lista respeitável de melhores do ano.


50/50
Por quê? Em primeiro lugar e antes de tudo: Joseph Gordon-Levitt. Ele é dos poucos atores da atualidade em quem confio totalmente. Vejo qualquer coisa que ele fizer. Mesmo G.I. Joe (que ele ainda defende em entrevistas, dizendo que adorou fazer) eu achei bem divertido. Joseph é fenomenal, como comprovam suas atuações em 500 Dias com Ela e Mistérios da Carne. Aqui ele faz um jovem que acaba de descobrir que tem câncer, com 50% de chance de cura (daí o título). Quem viu disse que a obra arranca tantas gargalhadas quanto lágrimas; e se tem uma coisa que a série The Big C provou é que câncer pode sim render muita comédia. O elenco de apoio conta com Seth Rogen e Anna Kendrick (que eu não curto muito), mas Joseph é Joseph. Será que finalmente sai a tão merecida indicação ao Oscar?

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Melancolia (Melancholia)



Melancolia e Cisne Negro foram os únicos filmes que vi duas vezes no cinema este ano, até agora. Cisne Negro é bastante compreensível: é um filme tão cheio de detalhes, tão feérico e dinâmico, que certas coisas são mesmo captadas apenas quando visto de novo. E é filme pra ser visto na tela grande, sem sombra de dúvida. Melancolia é outra história. Não achei que fosse ver de novo na tela grande. Mas vi uma vez, os dias foram passando, e continuei pensando no filme - e percebi que a nova empreitada do Lars von Trier tem algo de hipnotizante. Ao menos pra mim.

Pode-se dizer que este é o filme mais leve do diretor. Dá até vontade de rir ao dizer isso, mas é! Está ausente aquela mão de ferro dinamarquesa, aquela manipulação certeira de sentimentos que ele costuma fazer. Talvez por isso o filme não tenha provocado tantas reações apaixonadas como um Dogville (ou mesmo como um Anticristo, sei lá). Mas me agradou ver que von Trier deixou um pouco os dramas pesados de lado, e deu um descanso na sua mania de fazer as mulheres comerem o pão que o dinamarquês amassou.

Claro, a Justine de Kirsten Dunst sofre um bocado. Mas não é pela mão dos outros. Justine sofre de depressão crônica. Ela simplesmente não tem a capacidade de ser feliz. O início do filme promete outra coisa: ela está feliz ao lado do noivo, rindo de qualquer acontecimento, os fofíssimos dentes de Kirsten Dunst enchendo a tela. Mas à medida que a cerimônia de casamento vai seguindo, fica claro que Justine não consegue ser feliz. "Eu sorrio, e sorrio, e sorrio", ela diz para a irmã Claire (Charlotte Gainsbourg). Mas não adianta. É tudo fachada. Nem um noivo nórdico como Alexander Skarsgård, nem uma festa de arromba vão dizimar a tristeza infinita dentro de Justine. E ela vai cedendo aos poucos. O vestido, o sorriso, a maquiagem, tudo vai se desfazendo, assim como a festa.



Ah! E tem o planeta Melancholia. Que vai passar pela Terra e 1) proporcionar uma visão maravilhosa pra os humanos ou 2) arrasar com a vida no planeta, dependendo de quem você perguntar. "Life on Earth is evil", diz Justine. Ela está quase feliz com a possibilidade de a Terra acabar. Claire não. Claire é pura ansiedade e desespero.

Fica claro que von Trier compartilha muito mais a visão de Justine do que a de Claire. Eu já disse antes, e esse não é um pensamento só meu: tenho a impressão de que o diretor odeia a raça humana. Ou, se não odeia, considera a maldade inerente ao ser humano (vide Dogville, talvez o melhor filme já feito sobre o assunto). Pois surpresa! Pela primeira vez na carreira, o dinamarquês parece demonstrar alguma simpatia com seus colegas terrestres. Ele não transforma Claire em uma coitada. Ele sente pena dela. Ele parece realmente sentir ao menos uma melancolia (sem trocadilhos) quando aborda o fim do mundo. É o mais perto que ele já chegou de abraçar o espectador. Peraí: sair confortado de um filme de Lars von Trier? É por aí.



Melancolia tem um dos nomes mais apropriados dos últimos tempos. Não quer destruir o espectador. Quer mostrar que até mesmo o fim pode ser sereno, e belo. Os cinco minutos iniciais, com várias cenas do fim do mundo, são a coisa mais bonita que von Trier já filmou. O que não muda no cinema do diretor é a capacidade de extrair atuações brilhantes de suas atrizes. Kirsten Dunst é uma maravilha de sutilezas, mudanças sutis. O olhar da atriz diz tudo em vários momentos. Pode estar brilhante no início da festa, e cheio de amargura no meio da história. Já na primeira cena, quando seu rosto triste enche a tela, o impacto está garantido. É uma atuação poderosa, a melhor de uma carreira (e me fazendo pagar língua, já que eu tinha dito o mesmo sobre Maria Antonieta).

Talvez no futuro as pessoas se refiram a Melancolia como um "filme menor" do diretor - por não ser o soco no estômago que vários outros filmes dele são. Pra mim, está entre suas melhores obras. É fascinante. Nunca o fim do mundo foi tão bonito de se ver.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Amor a Toda Prova (Crazy, Stupid, Love.)



Amor a Toda Prova segue o caminho inverso da maioria das comédias românticas: começa desconjuntado, meio sem noção, parece que vai seguir assim mas vai se ajeitando. As peças vão se encaixando e o filme vai ficando mais divertido e mais doce. E os 15 minutos finais - geralmente o pior trecho das comédias românticas - estão entre as melhores partes do filme.

No início temos um casal (Steve Carell e Julianne Moore) em crise. Ela quer o divórcio. Ele sai de casa e passa as noites choramingando em um bar. Lá, o womanizer - ou devo dizer cafajeste mesmo? - Jacob (Ryan Gosling), aparentemente com dó do recém-separado, decide ajudá-lo a "recuperar sua masculinidade". Sério? Uma versão 2011 de Hitch - Conselheiro Amoroso? (o restante do filme revelará que não)

Em meio a isso, temos o filho do casal apaixonado pela babá; Julianne Moore às voltas com o colega de trabalho Kevin Bacon; e Emma Stone, que aparece no início do filme, some por um tempão e depois retorna. Claro que essas narrativas todas vão se encontrar, mas antes disso o filme parece uma espécie de Frankenstein das comédias românticas. As coisas são meio desconexas, estranhas, mas nunca enfadonhas - graças principalmente ao elenco afiado, e a um roteiro que surpreende.



Temos aquelas coincidências absurdas que só acontecem nesse tipo de filme, mas quando elas são reveladas o resultado é hilário. Temos um discurso (ai!), mas ele é bastante fofo. E, acima de tudo, temos um elenco irrepreensível, com destaque para Steve Carell. A transformação de seu personagem em Don Juan poderia ser absurda se estivesse nas mãos de um ator menos capaz. Mas Carell nunca deixa a máscara de conquistador dominar o personagem: lá no fundo está sempre o mesmo cara inseguro, sincero ao extremo e apaixonado pela mulher. Ryan Gosling se diverte de montão fazendo Jacob, um personagem inédito em sua carreira. E Emma Stone, mesmo num papel pequeno, transforma sua personagem numa mulher apaixonante e interessante.

Amor a Toda Prova é um sucesso porque consegue fazer as duas coisas que toda comédia romântica deveria fazer: rir e emocionar. Seja com uma tremenda briga, seja com pequenos detalhes (a risada gigante de Julianne Moore; um aperto carinhoso no nariz de Emma Stone; o olhar apaixonado de Steve Carell ao ver a esposa pela janela). Não é um filme perfeito, mas me conquistou com toda a sua esquisitice.