segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Anticristo (Antichrist, 2009)



Ó Lars Von Trier, por onde começar a destrinchar sua mais recente travessura? Porque quem levar Anticristo extremamente a sério provavelmente vai ficar ofendido com o filme. E Von Trier é, antes de tudo, um provocador. Um provocador fodaço e genial, diga-se.

A travessura começa cedo: logo nos primeiros minutos de filme já somos brindados com um close de uma penetração. Totalmente gratuito. Mas o prólogo inteiro, filmado todo em câmera lenta e em magnífico preto-e-branco, é uma brincadeira do diretor. O que ele quer: confundir o público? Ironizar a imagem do sexo perfeito, quente, que derruba coisas pela casa? Eu não tenho a mínima ideia (mas acho que nunca a morte de uma criança foi tão bonita de se ver).

Daí pra frente, o filme tem muito da típica câmera na mão do diretor - e seus cortes ao fim das frases - com alguns momentos de imensa beleza plástica (não à-toa, esses momentos sempre são filmados em câmera lenta). Mesmo que alguns desses momentos envolvam animais com crias natimortas.



Mas chega de falar do visual de Anticristo. Durante dois terços de sua duração, o filme é quase cerebral e quase lento, mostrando as tentativas de recuperação da mulher que se sente culpada pela morte do filho. O marido, que é terapeuta, se incumbe de "curar" a dor da mulher. Para isso, ele a submete a jogos e experiências. Para ele, a mulher só vai superar a experiência ao se submeter ao que sente mais medo. No caso, o medo supremo da mulher é a floresta onde o casal possui uma cabana. Num simbolismo nada sutil, a floresta é chamada Éden.

Os jogos propostos pelo marido carregam bastante de tortura psicológica, lugar-comum nos filmes do diretor. Mas aqui, como o objetivo é muito mais nobre, o espectador tente a "aceitar" as propostas do terapeuta. No entanto, quando a mulher enlouquece e começam as famigeradas cenas de mutilação, dá pra se perguntar: seria essa a revolta da violência física perante a violência psicológica? Seria a revolta da natureza - o caos, o instinto - contra a razão humana?

O diretor trabalha um monte de ideias polêmicas em Anticristo: a natureza é o mal absoluto. O sexo é a raiz do mal. A mulher é um ser essencialmente maligno. Os protestos de que este é um filme misógino não são exagerados. Mas, novamente, quem levar o diretor a sério demais vai se estressar à toa...

"E as cenas de violência explícita? Fala delas! São absurdas mesmo?" Sim, são. Tem coisas em Anticristo que eu nunca tinha visto em filme algum. Há um ato específico que me deixou encolhido na cadeira (pra quem viu: não é nenhum dos atos que envolve órgãos genitais). É necessário ser tudo tão explícito? Lógico que não. Mas lembra o que eu disse no início? Estamos diante de um provocador. Que faz o que quer, na hora em que quer. Somente isso já faz de Von Trier um diretor absolutamente necessário.

(Não sei se Von Trier leu Personas Sexuais, de Camille Paglia, antes de fazer este filme. Mas ele compartilha muitas das ideias da escritora)

2 comentários:

Unknown disse...

Creio que este cometário é super atrasado. Bom, vi o filme hoje (24.04.10). De cara, diria que é o filme dele de que menos gostei, mas de fato as imagens e o clima onírico é demais. Preciso pensar sobre o que vi. mas qual a cena que deixou vc encolhido na poltrona? rs

Adriano crowbar disse...

Marcio, foi quando a Gainsbourg enfiou aquela "ferramenta" na perna do Dafoe.