sexta-feira, 13 de julho de 2012

Fiona Apple, o disco novo e a internet

The Idler Wheel..., o novo disco de Fiona Apple, viu a luz do dia sete anos após o álbum anterior da cantora, Extraordinary Machine. Sete anos é um bocado de tempo. Mas é um bocado ainda maior quando se leva em conta a internet - ou melhor ainda, as redes sociais.
Digo isso porque quando Extraordinary Machine foi lançado, ainda não existia essa avalanche de meios pelos quais as pessoas podem se expressar na internet. Não havia Twitter, não havia Tumblr, o Facebook era um recém-nascido. Extraordinary Machine foi antecipado por sites de música e cultura, e comentado entre amigos. Mas antes do lançamento desse The Idler Wheel..., a diferença de expectativa em relação ao disco anterior foi um choque para mim. De repente Fiona estava por todo lado, sendo citada por mil perfis de Facebook, "tumbleada" a torto e a direito. Tempos modernos. Tempos que podem ser sufocantes, às vezes. Por isso resolvi esperar até adquirir meu CD original para ouvir a nova obra-prima-maravilha-coisa-incrível da cantora (palavras usadas por toda a internet para descrever o disco).

E fico feliz - e aliviado - ao perceber que a internet não estava errada.

As inúmeras entrevistas que a cantora deu, as declarações bizarras, os mínimos detalhes compartilhados por ela em reportagens e matérias: tudo isso é realmente interessante, mas não seria nada se The Idler Wheel... não fosse um disco fascinante. E é. É uma obra que desafia as definições. É simples e sofisticado, singelo e nervoso. É menos elaborado musicalmente que seus discos anteriores, mas nunca soa como "um passo atrás". As baterias são quase que experimentos; poderiam ter saído de um disco da Björk. Nas mãos de produtores/artistas mais ambiciosos e menos confiantes, essas canções seriam esqueletos de canções. Para a atual Fiona, no entanto, basta uma bateria ritmada e algumas notas de piano: o resultado é devastador. Pegue "Regret", por exemplo, talvez o exemplo mais assustador da fúria da moça. Não falo apenas do verso sobre "mijo quente que sai da sua boca toda vez que você se dirige a mim". É cada nota de piano, apenas uma a cada dois ou três segundos, cada uma soando como o perigo chegando mais perto. Isso sem falar no brilhante jogo de palavras que ela endereça a um ex-namorado. "Você já era um expert em arrependimentos, mas eu não - ainda não".

De certa forma a produção de The Idler Wheel... é quase anti-Jon Brion, o responsável pelas obras-primas cheias de floreios presentes em When The Pawn..., de 1999. Mas Fiona de vez em quando olha para seu próprio passado musical. "Werewolf" é a irmã mais velha de "Love Ridden", também de 1999. Se no passado, porém, Fiona cantava somente a tristeza de não se poder ter mais um amor, aqui ela assume metade da culpa: "Eu poderia te associar a um tubarão pela maneira que você arrancou minha cabeça, mas eu estava acenando com uma ferida aberta". E então surge uma lição de serenidade, Fiona Apple style: "Podemos suportar um ao outro. Basta evitarmos um ao outro".

O maior atrativo de The Idler Wheel... talvez seja o modo como ele surpreende o ouvinte. "Valentine" começa e você ouve uma baladinha ok, triste, bonita, mas sem novidades musicais. Mas então chega o refrão e o ritmo muda - e quando Fiona canta "I root for you, I love you", em vez de soar fofa a cantora dobra de tamanho e fica assustadora. "You you you you": é uma declaração de amor ou de ódio? O mesmo vale para "Jonathan", a primeira canção de sua carreira com um nome incluso. Desde as primeiras notas de piano, o clima não é necessariamente pacífico. "Apenas tolere meu pequeno pulso contra seu peito de floresta". Eis o amor, pelos olhos de Fiona.

The Idler Wheel... encerra com "Hot Knife", talvez a canção que mais explicite a relação de Fiona com o jazz. Cantando num estilo que lembra "Too Darn Hot", de Cole Porter, a cantora é acompanhada a princípio somente por tambores que podem tanto ser de adoração ao deus da chuva quanto o anúncio da entrada de gladiadores na arena. Numa associação tão genial quanto simples - "Se eu sou manteiga, ele é uma faca quente" - Fiona mostra que continua numa esquina só sua, idiossincrática e fascinante. "Hot Knife" é um encerramento surpreendentemente sexual para um disco cheio de melancolia. É Fiona sendo Fiona: imprevisível.