terça-feira, 20 de julho de 2010

Madadayo (1993)



Antes desse filme, havia visto somente duas obras de Akira Kurosawa: Rashomon e Os Sete Samurais, ambos magníficos. Nenhum dos dois trata especificamente de temas associados ao trabalho do diretor, como a dádiva da vida e a gentileza nos relacionamentos humanos. Madadayo, que foi o último filme do diretor, trata desses temas simples, mas geralmente pouco abordados no cinema.

O filme é simples e econômico, e quase não há uma trama, por assim dizer: trata dos anos pós-aposentadoria de um querido professor de alemão, e seu relacionamento com seus ex-alunos. O filme começa com o último dia de trabalho do professor - tudo que sabemos dos ensinamentos do professor, nós sabemos pelo modo como ele é reverenciado pelos ex-alunos. Basta dizer que todos se referem a ele como sendo "de ouro maciço".

Após ter a casa bombardeada durante a Segunda Guerra, o professor vai morar com a mulher numa casinha minúscula. A tranquilidade do professor com o destino é emocionante - e contagia todos à sua volta, como o dono do terreno vizinho, que passa por cima da ganância alheia apenas para que o professor não tenha a vista obstruída por uma grande construção. O professor deseja somente simplicidade, e por desejar tão pouco ele possui sabedoria de sobra.

"Madadayo" significa "Ainda não", e vem de uma brincadeira similar ao esconde-esconde. No filme, é a resposta do professor quando seus ex-pupilos perguntam, "Está pronto?". Sendo que o que está oculto, obviamente, é "Está pronto para morrer?". O professor nunca está pronto, e essa vontade de viver, o prazer que ele alcança com um gato, ou contando suas anedotas, faz da sua vida tão rica quanto a vida de qualquer aventureiro. Kurosawa provavelmente queria dizer "Ainda não" na vida real também. Com esse filme, um canto do cisne magnífico, dá pra dizer que, ao menos no campo de suas obras, Kurosawa saiu de cena da forma mais honrosa, simples e bela que poderia.