segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A trilha (A perfect getaway)



Expectativas podem matar ou salvar um filme. Todo fã de cinema sabe disso. Se vem um Brokeback Mountain incensadíssimo pela crítica e adorado por todos, o fato de eu não achar o filme incrível resulta em decepção. E se decido encarar um As branquelas pensando "O que estou fazendo, Jesus?" e dou bastante risada, pronto - lugar garantido na lista de filmes mais surpreendentes do ano.

A trilha, com seus vários defeitos e uns belos overacting na parte final, me deu mais vontade de escrever aqui do que uns filmes incensados que eu vi no cinema neste início de 2010. Engraçado, não? Talvez porque eu não esperasse me divertir tanto. Temos dois casais passeando por lugares paradisíacos no Havaí; temos um casal assassino. Quem serão os assassinos? Será ainda um terceiro casal ameaçador (e lindo) que pede carona e age de forma drogada/tensa?



O filme é bacana, entre outras coisas, porque consegue realmente manter a tensão por muito tempo - mais de uma hora, se não me engano. E imagino que todo mundo que já fez trilha tenha ficado com um medinho de encontrar um louco assassino no caminho. O diretor/roteirista David Twohy (do excelente Submersos) sabe o que faz. Em várias cenas, ele usa artifícios inusitados para este tipo de filme - tomadas longas, grandes diálogos - e se sai bem. Em outros momentos ele constrói uma tensão com os elementos básicos (música, closes) e no final dá as dicas: "Agora vou assustar vocês". E o susto, mesmo previsível, é tão bom que a única saída é rir.

A trilha é mais um daqueles filmes com uma reviravolta incrível, o que geralmente me irrita profundamente. Mas nesse caso há um flashback tão foda - que vai muito além do "vou explicar tudo que aconteceu até agora, por essa nova perspectiva" - que me deixou ainda mais interessado. Deve ser o único flashback desse tipo que adicionou uma carga emocional que não existia até então. Por isso, e por coisas como as ótimas atuações de Timothy Olyphant e Kiele Sanchez, perdoei os exageros da parte final, Milla Jovovich de dentes cerrados achando que está mostrando ódio, Steve Zahn enlouquecendo. A trilha me divertiu muito mais do que eu esperava.