segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Os melhores filmes de 2009


20 >> O Visitante (The Visitor)
Thomas McCarthy tem apenas dois filmes no currículo; os dois são tão bons que já estou ansioso pelo próximo. Tanto O Agente da Estação quanto este O Visitante são daqueles filmes pequenos, escorados em atores talentosos e quase desconhecidos. O eterno coadjuvante Richard Jenkins ("Ele está me possuindo, Clyde!"; viva As Bruxas de Eastwick!) finalmente foi reconhecido pela atuação como o professor solitário que acaba se envolvendo com um casal de imigrantes ilegais. Trabalhando com uma série de "grandes temas" - solidão na meia-idade, a surpresa de descobrir uma motivação em meio a uma vida vazia -, McCarthy nunca cai no melodrama nem no lugar comum. E aquele tambor tocado furiosamente por Jenkins no final é uma das melhores representações da raiva diante das injustiças da vida.


19 >> Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road)
É muito irônico, e divertido, ver que o projeto que reuniu Leo & Kate é um estudo sobre um casal se desintegrando - isso porque eu amo Titanic! "Divertido" só na teoria, já que Foi Apenas um Sonho não tem nada de divertido. Mesmo as saraivadas de verdades disparadas pelo vizinho perturbado (Michael Shannon), a princípio engraçadas, acabam atingindo lá no fundo justamente porque são verdades. Tanto DiCaprio quanto Winslet se entregam de corpo e alma aos seus papéis; dói ver a total incompatibilidade entre o otimismo de Frank e a frustração de April. O filme faz sucesso porque tem os dois pés fincados na vida real - mas não é devastador ver os planos de uma vida nova ficarem cada vez mais distantes? Beleza Americana my arse: agora sim Sam Mendes pode dizer que realizou um grande filme.


18 >> Dúvida (Doubt)
Teatrão filmado? Com certeza. Mas isso não necessariamente significa uma crítica. Quando um filme oferece não duas, nem três, mas quatro atuações de tirar o fôlego, do que reclamar? Tá, eu não gosto da última fala dita por Meryl Streep; acho que enfraquece o personagem e busca a simpatia do espectador no último segundo. Mas este é um caso raro: Meryl nem é dona da melhor atuação do filme! Temos Viola Davis e sua única cena - mesmerizante, inesquecível. Temos Philip Seymour Hoffman, um exemplo de reserva; é admirável como, nos duelos de acusações com Meryl, ele não plante a mão na cara da Irmã Aloysius. E temos Amy Adams, na minha opinião dona do personagem mais difícil. Ela é o elo com a platéia, dividida sobre em quem acreditar. É muito mais do que chorar e tremer: é uma vida inteira de convicções que pode mudar ali mesmo. Material fortíssimo, e Dúvida é um filme forte.


17 >> Arrasta-me Para o Inferno (Drag Me to Hell)
Oi, Sam Raimi! Como eu adoro Homem-Aranha 3, nem vou dizer que Arrasta-me Para o Inferno é um retorno à boa forma, ok? Mas não dá pra negar que é uma delícia ver o diretor mostrando que, além de Wes Craven, ninguém mistura terror e comédia tão bem quanto ele. E o melhor: mesmo o humor é especialmente dedicado aos fãs de filmes de terror, já que envolve substâncias gosmentas, olhos na comida e o assassinato de um inocente gatinho. A fofa Alison Lohman está hilária (as caras dela na sequência do jantar em família são impagáveis) e come o pão que Lamia amassou - há muito tempo uma personagem não tinha tantas mechas de cabelo arrancadas! Raimi sabe exatamente o que faz: as cenas de terror realmente dão medo, e geralmente com os recursos mais simples e baratos. Esse é o filme perfeito pra juntar os amigos e fazer uma sessão memorável em casa.


16 >> Harry Potter e o Enigma do Príncipe Mestiço (Harry Potter and the Half-Blood Prince)
Um pensamento recorrente que me vem à mente durante os últimos filmes da série Harry Potter: "Caramba, tem tanto personagem bom, tanta coisa acontecendo, não quero que esse filme acabe nunca!" E não me refiro somente aos truques de mágica, às cenas de perseguição, aos seres fantásticos de Hogwarts. Neste novo Harry Potter, os adolescentes estão todos com fogo no rabo - e além dos inevitáveis momentos de comédia, temos aquelas dolorosas decepções: amores não-correspondidos, inseguranças. E Emma Watson, principalmente, está se tornando rainha dos pequenos-grandes-momentos da série (a cena em que ela senta na escada com Harry partiu meu coração). Claro, ninguém vai ver os filmes da série esperando um drama adolescente; as sequências de ação continuam excelentes - como destaque para a perseguição no meio do mato. Mal posso esperar pelo fim da saga.


15 >> Star Trek
Meu pai é um trekker. Provavelmente por isso, mesmo sem acompanhar a série, sempre tive muita simpatia pelos Star Treks (sem contar que Primeiro Contato é um filme fudido de bom). Então vem J.J. Abrams com o desafio hercúleo de reinventar a série pra toda uma geração CGI. E o danado conseguiu! A começar pela escolha do elenco: Chris Pine e Zachary Quinto não poderiam ser melhores Kirk e Spock; Zoe Saldana, pré-Avatar, responde por alguns dos momentos mais carinhosos da trama; e Anton Yelchin está hilário como Chekov. Star Trek é o perfeito blockbuster com coração: pra cada cena de ação magnífica (a perseguição no meio da neve; a queda livre em direção à plataforma) há uma cena realmente emocionante (Uhura consolando Spock após a morte dos pais dele). Isso porque eu nem comentei do tanto de gente bonita no filme; estou tentando ser menos fútil, sabe.


14 >> Atividade Paranormal (Paranormal Activity)
OS 11 mil dólares mais bem gastos da história do cinema? Provavelmente. Atividade Paranormal me deu os melhores (e maiores) sustos de 2009, além de criar uma tensão absurda com quase nada. É filme pra ser visto no cinema - os pulos na cadeira não vão ser tão altos se forem em casa. Ou talvez sejam (eu é que sou old school e acho que todo filme de terror é melhor na tela grande). O pobre Micah - cético como eu - não podia imaginar o que estava por vir ao decidir instalar uma câmera pra registrar a atividade do título. E Katie é mais do que "pobre"; dá pra imaginar como é passar por essas experiências praticamente a vida inteira? A ideia do diretor Oren Peli é tão básica que dá raiva. Mas o filme não seria nada se não houvesse um verdadeiro talento orquestrando os sustos. Cada barulho, cada rangido de porta, cada grito no escuro vem na hora certa. E aquele final? AI!


13 >> O Leitor (The Reader)
Talvez O Leitor seja o filme com mais defeitos nesta lista. A música é intrusiva, praticamente todas as cenas com Ralph Fiennes são meio sem graça, o final é uma bobagem. Mas quem assiste o filme se vê diante de uma força da natureza, um assombro, uma atuação realmente sem limites. Kate Winslet, dona da carreira mais interessante dos últimos 15 anos, não pede em nenhum momento a simpatia do espectador. Sua Hanna Schmitz é tacanha, meio grossa, não tem modos muito bons. Mas é uma criação tão palpável, tão forte, que eventuais defeitos da personagem deixam de ser defeitos e se tornam características. Quando Hanna chora enquanto assiste a um coral, ela não chora simplesmente: todo o resto de uma armadura desaba ali, aos olhos do espectador. Difícil dizer se é a melhor atuação de Kate. Mas com certeza é uma das melhores da década. O que só mostra como a atriz já se tornou uma verdadeira entidade do cinema.


12 >> Há Tanto Tempo Que te Amo (Il y a longtemps que je t’aime)
Eu deveria não escrever nada sobre esse filme, e simplesmente dizer a todos que assistam a cena em que Juliette (Kristin Scott-Thomas) diz a um empregador o motivo pelo qual ela passou 15 anos presa. Ela não faz drama, ela não é fria. Ela diz o motivo de modo relativamente calmo, mas está lá nos olhos dela: a reação esperada do empregador. A reação de sempre. A revolta. Kristin, atuando em francês, tem uma daquelas raras atuações sem 1% de gordura, sem grandes gestos. E se o filme pode decepcionar algumas pessoas com uma espécie de "reviravolta" no final, dá quase um alívio ver Juliette se desnudando, expiando culpa, expondo sua tristeza infinita. Acompanhada por uma Elsa Zylberstein impecável, Kristin carrega toda a personagem nos olhos cansados. Este é um filme que poderia ser um convite à depressão. Mas é tudo tão honesto que o resultado é muito mais impactante do que uma "mera" tristeza.


11 >> Coraline e o Mundo Secreto (Coraline)
Eu me considero uma pessoa de muita sorte por ter visto Coraline no cinema, em 3D, como ele deve ser visto. E vi duas vezes! Não poderia ter pedido por uma introdução melhor à nova geração do 3D - um subtítulo mais adequado para o filme seria "O Mundo Mágico". Túneis coloridíssimos surgem do nada, um teatro recebe uma platéia de cachorros, ratos de circo apresentam um espetáculo maravilhoso (talvez a cena que mais tenha me deixado feliz em 2009). Na verdade eu nunca fui tão criança este ano do que quando assisti Coraline; eu ria de felicidade pura. Se o filme suaviza várias partes do livro de Neil Gaiman, nem por isso trata-se de um filme "fofo": afinal, não há nada de fofura em um mundo paralelo onde as pessoas têm botões costurados no lugar dos olhos! Coraline é divertido, tenso e acelerado, como qualquer bom filme de aventura. Ou melhor, como os GRANDES filmes de aventura.


10 >> Entre os Muros da Escola (Entre Les Murs)
Tudo que o mundo precisa é de mais um filme na linha Ao Mestre com Carinho. De Edward James Olmos a Michelle Pfeiffer (passando por Lauryn Hill), praticamente todo mundo já deu as caras em um filme assim. Entre os Muros da Escola pega todos esses filmes e dá uma sova de verdade neles. Não tem nada de professor-bonzinho-como-um-anjo, nem alunos-que-aprendem-uma-grande-lição no fim. O professor François, na verdade, comete talvez o pecado mais comum entre os professores, e também o mais humano: ele se acha melhor que os alunos. Já os alunos têm aquela velha postura de achar que a escola não serve pra nada. Professor e alunos tentam, mas não se entendem. Poderia ser um documentário. Não há nenhuma lição a ser aprendida no fim. Há uma aluna que diz ao professor: "Não aprendi nada este ano". É de cortar o coração. Entre os Muros da Escola acontece todo dia, infelizmente.


09 >> Avatar
Pena das pessoas que não tiveram a chance de assistir Avatar num grandioso 3D de tela de cinema. Essa é a resposta filha-da-puta de James Cameron a todo mundo que acha que ir ao cinema já era, que todo filme pode ser baixado e apreciado em casa da mesma forma. Essa é a resposta filha-da-puta a quem achava que James Cameron nunca poderia se recuperar do sucesso planetário de Titanic. E essa também é uma declaração de amor de James Cameron ao cinema. À tecnologia. E à natureza, principalmente. É O Novo Mundo com um orçamento milionário, mas com o mesmo respeito à natureza. É um conceito praticamente impossível: o filme mais caro da história é também um filme que crê cegamente na inocência, e na pureza. Quando Neytiri diz, após a morte de um animal, "Isso é apenas triste. Não há o que agradecer", é ousadia pura, em pleno 2009. E James Cameron segue como o maior dos visionários dentre os diretores de ação.


08 >> 500 Dias Com Ela (500 Days of Summer)
500 Dias Com Ela pode até parecer uma espécie de "anti-comédia romântica", mas não é. Não é porque Summer (Zooey Deschanel) não acredita no amor que o filme vai na onda dela. 500 Dias é muito mais Tom (Joseph Gordon-Levitt) do que Summer; oras, até um número musical o filme tem! Só que o diferencial desta obra pra 99% das outras comédias românticas é que aqui, quando o casal briga, não é faltando 15 minutos para o fim do filme, e não há aquela certeza de que eles vão voltar a ficar juntos. Aqui são ditas verdades dolorosas. Aqui, a realidade destrói as expectativas (numa sequência das mais geniais, e das mais devastadoras). E aqui, para alegria dos românticos como eu, há a esperança de um futuro melhor. Mais uma vez destruindo a quase totalidade das comédias românticas, em 500 Dias Com Ela a idealização de uma pessoa é posta por terra. Sempre vem alguém depois. A gente sofre, mas tudo passa.


07 >> Amantes (Two Lovers)
Amantes me deu uma tremenda lição de humildade. Não o filme em si, mas as pessoas que eu conheço que assistiram. Após ver o filme, fui tomado por pensamentos pretensiosos do tipo "Poucas pessoas vão gostar desse filme como eu; é um filme muito peculiar". Quanta bobagem. Foi tanta gente me dizendo que tinha amado, que eu deixei de lado esses pensamentos. É um filme mais universal do que eu pensava. E ainda assim, o diretor James Gray constrói tudo de um modo bastante... pessoal. No filme anterior, Os Donos da Noite, Gray já inovava ao colocar uma história de amor totalmente crível no meio de duelos entre policiais e criminosos. Aqui ele continua trilhando uma carreira interessantíssima, fazendo filmes aparentemente sem grandes novidades. Temos um solitário (Joaquin Phoenix, a perfeição) e duas mulheres, ponto. Precisa mais? Não, quando se tem tamanha honestidade emocional como a registrada neste Amantes.


06 >> Up
O rato cozinheiro em 2007. O robô apaixonado em 2008. O velho com a casa de balões em 2009. A Pixar é como um relógio suíço: a cada ano, cria uma obra-prima do cinema. Up, mais leve e menos ousado que Wall-E, é todo aventura e diversão. Aliás, nem todo: os dez minutos iniciais (talvez os 10 minutos iniciais mais comentados do ano) passam do sublime ao tristíssimo - isso sem o uso de uma única palavra. Para o bem dos nossos corações, a partir daí o filme fica leve, delicioso, com a ajuda dos coadjuvantes mais fofos do ano. O garotinho Russell é uma das poucas crianças hiperativas do cinema realmente adoráveis; já Dug, o cão fiel, merece muito mais adjetivos do que simplesmente "adorável". E o que dizer de Alpha e sua voz... poderosa? A primeira fala dele equivale ao momento mais engraçado de todo o ano. É um grandíssimo elogio a Up o fato de que nem 1% da diversão se deve ao 3D. Que, por sinal, é magnífico.


05 >> Sinédoque, Nova York (Synechdoche, New York)
Eu queria muito saber com o que Charlie Kaufman sonha. Como é possível que alguém tenha uma imaginação tão insana, e ao mesmo tempo tão conectada a verdades universais do ser humano? Sinédoque, Nova York parece uma grande viagem (e é), mas também é um dos filmes mais dolorosos que vi em 2009. A odisséia de Caden Cotard (ainda estou pra ver Philip Seymour Hoffman em uma atuação abaixo do impecável) me levou a pensar sobre a solidão. Sobre o papel de cada um na vida de quem está em volta. Sobre - e isso é algo em que eu realmente acredito - como cada pessoa do mundo tem sempre algo interessante, pois cada pessoa é um mundo a ser descoberto. Pode ser que Sinédoque, Nova York tenha nascido da ansiedade de Kaufman pós-Brilho Eterno de uma Mente sem Lambranças: tanto Caden quanto Kaufman são reconhecidos por um prêmio importante (no caso de Kaufman, o Oscar) e precisam comprovar seu talento. Kaufman, o diretor, é tão talentoso quanto o roteirista. Isso é fato.


04 >> O Lutador (The Wrestler)
Onde Darren Aronofsky, o virtuoso por trás de Réquiem para um Sonho e Fonte da Vida deixa as pirotecnias de lado e põe foco nas emoções. Não que registrar emoções seja novidade na carreira do diretor; mas nunca antes ele havia realizado uma obra tão intimista. O Lutador é aquela velha história de "astro em decadência tenta dar a volta por cima" (e se essa premissa te dá arrepios, basta ver como o filme deturpa expectativas, principalmente nos 15 minutos finais). Claro, a grande história por trás do filme é o grande retorno de Mickey Rourke, e ele justifica todo o auê, todos os prêmios. Seu Randy não é um cara orgulhoso o suficiente pra não se desculpar, nem se humilha pra agradar os outros. O "problema" de Randy é que ele desaprendeu a lidar com a vida fora do ringue. Quando ele tenta reatar com a filha, o resultado é de cortar o coração. Por isso o final, que pode parecer a coisa mais triste do mundo, de certa forma é feliz. Ali temos um homem realizado, na medida do que a vida deixou.


03 >> O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married)
Esse foi o ano das irmãs em conflito? Tivemos duas duplas magníficas em 2009: uma em Há Tanto Tempo que te Amo, e as irmãs Rachel e Kym neste filme. Olha meu tema favorito aparecendo: família em conflito! Viva! Muita briga, muitas lágrimas, eventuais tapas na cara. O que coloca O Casamento de Rachel acima dos outros filmes com o mesmo tema é o tom documental que o diretor Jonathan Demme escolheu para contar a história. Parece um casamento de verdade, com discursos intermináveis, momentos embaraçosos e até mesmo uns bons 15 minutos só de música e gente dançando. O roteiro de Jenny Lumet é extremamente corajoso ao colocar a "rehabbed" Kym longe de ser um exemplo de humildade. Egoísta e imatura, ela insiste em ser o centro das atenções até mesmo durante o casamento da irmã. Anne Hathaway está um assombro. Assim como Rosemarie deWitt, perfeita como Rachel, que não aceita desaforos da irmã. No fim, nada se resolve muito. Mas a vida não se resolve em um casamento.


02 >> A Garota Ideal (Lars and the Real Girl)
Demorou dois anos para Lars e a "garota ideal" chegarem aos cinemas brasileiros. Mas eles chegaram, e me conquistaram pra sempre. Antes de eu ver um filme, um amigo me disse que esse filme era a minha cara. Ele disse: "O filme tem um senso de comunidade que você gosta". Depois que eu vi, entendi. Caramba, é um filme onde um cara começa a namorar uma boneca inflável. E toda a cidade, em vez de zombar dele ou mandar interná-lo, decide entrar na onda e aceitar o relacionamento. É ficção científica! E é um filme descaradamente otimista, que acredita na bondade do ser humano, na vontade de ajudar o próximo. O modo como Bianca (a boneca) é aceita pela comunidade me emocionou o tempo todo. Lars, Bianca e os amigos dançam ao som de "This Must Be The Place", do Talking Heads; nunca essa música foi tão bonita. Ryan Gosling é 100% comprometimento com Lars. E o filme é 100% comprometimento com sua proposta absurda. Absurda, magnífica, sensacional, apaixonante. Eu amo esse filme.


01 >> Distrito 9 (District 9)
Enquanto eu assistia esse filme, o pensamento dominante era: "Putz, que filme mais original!" Convenhamos: a ideia de colocar aliens segregados na África do Sul é coisa de gênio. Mas Distrito 9 é muito mais. O filme consegue a proeza de fazer com que o espectador se identifique com os aliens sujos, maltrapilhos e desprezados. Isso por meio de um protagonista dos mais sem graça, o "bom empregado" Wikus. Até certo momento do filme, nem suspeitava que ele fosse se tornar o protagonista do filme - ponto para o diretor e roteirista Neill Blomkamp, que me pegou de surpresa. Os rumos que Distrito 9 toma, por sinal, são surpreendentes (o que desagradou várias pessoas que eu conheço). No meu caso, fiquei grudado na poltrona o tempo todo. Seja enquanto posa de documentário, seja quando passa para o clima de "experiência de laboratório", seja quando descamba para cinema de ação, Distrito 9 nunca perde o rumo. Pode-se dizer que são vários filmes dentro de um, todos igualmente impactantes. E quando eu já estava achando que, pela primeira vez, um filme que eu elejo como "o melhor do ano", não vai me fazer chorar, chegam os três minutos finais e me deixam arrasado. Aquela cena final, sem uma palavra, nunca vai sair da minha cabeça. Aquele olhar final para a câmera já entrou pra minha história.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Os melhores discos de 2009

2009 me pareceu mais um ano de grandes singles do que de grandes álbuns. Sinal dos tempos? Sei que foi um ano com dezenas de músicas brilhantes (principalmente no pop), mas poucos discos consistentes do início ao fim. De qualquer forma, os dez listados aí embaixo grudaram nos meus ouvidos durante todo o ano.

(Quase fizeram parte dessa lista: Annie e seu Don't Stop; Manners do Passion Pit; In Love & War da Amerie.)



#10 >> Far, Regina Spektor
Regina Spektor parece estar trilhando o perigoso caminho seguido por Tori Amos: após discos excelentes, que primavam pelo não-convencional, seguem-se discos cada vez mais pop, até a irrelevância quase total (no caso de Tori). Uma boa parcela dos fãs torceu o nariz para os sons mais convencionais deste Far, mas a estranheza da cantora ainda está intocável nas letras. Já na faixa de abertura, ela pega o clichê de dois amantes com "corações de pedra" e o transforma numa canção de amor original, ao dizer que "saíram faíscas de tanto bater os corações um no outro". E continuam presentes nas canções de Regina aqueles momentos universais mas quase nunca cantados em música, como no primeiro verso de Eet: "It's like forgetting the words to your favorite song". E ainda tem Dance Anthem of the 80's, a música mais feliz, que me provocou mais êxtase, mais alegria, mais tudo em 2009. A canção do ano.
ouça >> Eet, Folding Chair, Laughing With, Dance Anthem of the 80's
melhor momento >> Em Dance Anthem of the 80's: "It's been a long time since before I been touched; now I'm getting touched all the time. And it's only a matter of whom, and it's only a matter of when". É luxúria, é esperança, é amor, é tudo junto nesses versos


#09 >> Whisper House, Duncan Sheik
Era de se esperar que, após o sucesso do musical Spring Awakening (com músicas compostas por ele), vencedor do Tony e aclamado pela crítica, o próximo disco de Duncan Sheik fosse recebido com expectativa. Aparentemente não foi o caso: Whisper House passou quase em branco. É uma pena, já que essa coleção de canções (supostamente a base para um novo musical escrito por Duncan) mostram, mais uma vez, que Mr. Sheik é um dos melhores no seu campo. A participação da vocalista Holly Brook em quase todas as canções dá um clima de narrativa ao disco, como se os dois estivessem contando uma história ao ouvinte. As duas vozes formam um belo casamento, nunca dramatizando em excesso as letras (que, em sua maioria, falam de fantasmas). Quando Holly surge na animada We're Here to Tell You, é como se ela fosse a voz da serenidade se contrapondo à voz urgente de Duncan. Whisper House é cheio de grandes momentos como esse, de uma grande colaboração.
ouça >> It's Better to be Dead, We're Here to Tell You, And Now We Sing, Take a Bow
melhor momento >> A guitarra com efeitos de We're Here to Tell You, que dá um belo ar "old school" à música


#08 >> Veckatimest, Grizzly Bear
Falar de uma banda como o Grizzly Bear, pra mim, é muito difícil. Essa é uma daquelas bandas adoradas nas rodas de indie rock, idolatradas. E eu nunca tive muita vontade de ouvi-los. Mas os elogios a Veckatimest foram tantos que me bateu a curiosidade. Sorte a minha, já que é um disco sensacional. Mas qual a propriedade que eu tenho pra falar deles? Nenhuma. Só posso dizer que, desde o refrão da primeira música, Southern Point, a turma de Ed Droste me pegou de jeito. O clima épico e ao mesmo tempo intimista das canções têm um apelo irresistível (e o melhor exemplo talvez seja a já citada faixa de abertura). Como não cair de amores pelo tecladinho e as vozes em uníssono do início de Two Weeks? E o refrão grandioso de All We Ask? Demorou, mas eu me rendi completamente ao Grizzly Bear. Melhor que seja tarde do que continuar no escuro.
ouça >> Southern Point, All We Ask, Two Weeks, Cheerleader
melhor momento >> As palminhas de Cheerleader, absolutamente irresistíveis


#07 >> Declaration of Dependence, Kings of Convenience
Eis uma banda que não se envergonha em fazer mais do mesmo. Declaration of Dependence não vai angariar nenhum novo fã pra banda; mas isso é necessariamente um problema? O caso é que eles continuam fazendo o que sabem fazer de melhor: canções simples, voz-e-violão, com harmonias vocais incríveis e letras mais incisivas do que a música aparentemente "fofa" pode sugerir. "Explique-me mais uma vez: quando eles matam é crime, e quando você mata é justiça?", dispara a dupla ao final da magnífica Rule My World. Declaration of Dependence é cheio dessas disparidades agridoces: um violão acaricia uma letra acusadora, uma mão constrói um castelo enquanto a outra mão destrói outro. Um hiato de cinco anos separa este disco do anterior, Riot on an Empty Street; a dupla de branquelos da Noruega fez falta na música.
ouça >> Me in You, Rule My World, Peacetime Resistance, Riot on an Empty Street
melhor momento >> Como escolher entre os violões do início de Me in You e de Rule My World?


#06 >> Break Up, Pete Yorn & Scarlett Johansson
Nunca acompanhei a carreira do Pete Yorn (apesar de adorar For Nancy, do primeiro disco dele), e acho o disco anterior da Scarlett Johansson quase inaudível em algumas partes. Mas eis que os dois se juntaram, deixaram as pretensões de lado e realizaram um disquinho simples, curto (9 canções) e grudentíssimo - daqueles de acabar e começar a ouvir tudo de novo. Mesmo que Break Up seja muito mais Pete do que Scarlett - em algumas canções, ela se limita a fazer backing vocals -, a junção dos dois consegue atingir o objetivo do projeto: realizar uma espécie de "atualização" do disco conceitual sobre dois amantes no processo de fim de relacionamento. Tudo bem que a parte final do disco é bastante melancólica, mas a dupla também nos brinda com pérolas pop como Relator e Search Your Heart. É o disco perfeito pra uma viagem com amigos: todo mundo animado no início, todo mundo mais pensativo e calmo ao final.
ouça >> Search Your Heart, Blackie's Dead, Shampoo, Someday
melhor momento >> Scarlett cantando "Don't blame me for your troubles, ooh ooh ooh" em Search Your Heart (e derretendo corações de qualquer ser humano vivo)


#05 >> It's Blitz!, Yeah Yeah Yeahs
O Yeah Yeah Yeahs mudou. Não sei se pra melhor ou pra pior; pra mim, eles continuam tão bons quanto sempre foram. Mas as guitarras insanas cederam espaço para teclados (também insanos); Karen O. aquietou um pouco (ainda bem que foi só um pouco) e está cantando de modo mais emocionado do que nunca - Skeletons, comovente, é o fim do relacionamento da clássica Maps. No fim das contas, It's Blitz! calou a boca de quem achava que a banda ia ficar mais domesticada, e ganhou novos fãs com sua inédita sofisticação musical ("sofisticação" é uma palavra meio fresca para um disco como esse, na verdade). Os hinos pra pista continuam perfeitos, como comprovam Zero e Heads Will Roll; e se eu acho que Hysteric poderia ter um pouco mais de peso, bom, o mundo inteiro discorda. Com este terceiro disco, o Yeah Yeah Yeahs prova ser a banda mais consistente do indie rock.
ouça >> Zero, Heads Will Roll, Soft Shock, Skeletons
melhor momento >> "Skeleton, me" - e as lágrimas surgem...


#04 >> Music for Men, The Gossip
Que delícia esse disco! Dá vontade de parar de escrever aqui mesmo. Music for Men é isso: uma delícia. Sucessão de músicas boas, pop, divertidas e grudentas. É o balanço perfeito entre o espírito punk do grupo e uma pegada mais "mainstream" que o sucesso acaba trazendo. Beth Ditto continua cantando que é uma barbaridade, e os agudos invejáveis estão todos lá; mas a banda soa ainda mais afiada, coesa, destruindo com riffs de guitarra brilhantes e ótimas viradas de bateria (For Keeps é uma proeza de construção de música: um baixo foderoso aqui, depois um riff simples, uma bateria, e pow!). As letras são perfeitas para os freaks em geral citarem e se divertirem nas conversas com os amigos: "This is the last time I love and let love!", "Love is a four letter word that should never be heard!" E, ainda assim, Beth soa confiante o tempo todo.
ouça >> Love Long Distance, Vertical Rhythm, For Keeps, Four Letter Word
melhor momento >> A guitarrinha de Vertical Rhythm: sei lá por que motivo, mas sempre me lembra corridas de Fórmula 1


#03 >> Cover, Joan as Police Woman
Este terceiro disco de Joan Wasser, somente de covers (duh), foi vendido apenas nos shows da cantora durante este ano. O fato de eu simplesmente amar um projeto tão pequeno comprova que 1) Joan é, pra mim, a melhor artista que surgiu nesta década e 2) Tudo que ela faz, ela faz muito bem. Cover vai de Britney Spears a Sonic Youth, passando por T.I. e Jimi Hendrix. O que esperar de um disco assim? Uma mistura de galhofa (em relação a Britney, por exemplo) e veneração (ao cantar uma canção de David Bowie). Nem um, nem outro: este é um disco absolutamente peculiar - começando pela capa sensacional. Sacred Trickster, do Sonic Youth, é diversão pura baseada somente em palmas e bumbo (que ousadia tirar a marca registrada do Sonic, as guitarras!); já Overprotected, da princesinha louca do pop, tem um clima de respeito aos sentimentos adolescentes da letra sem ser ridiculamente séria. Cover soa familiar, estranho e único, assim como as composições próprias de Joan.
ouça >> Overprotected, Whatever You Like, She Watch Channel Zero, Sacred Trickster
melhor momento >> O arranjo "minimalista" de Sacred Trickster consegue ser ainda melhor que as guitarras de Thurston Moore e Kim Gordon


#02 >> Vagarosa, Céu
Mesmo com muitos elogios, nunca tinha dado muita bola para o primeiro disco da Céu. Mas desde o momento em que ouvi pela primeira vez esse Vagarosa, nossa! Que disquinho sensacional! Passando longe das amarras da MPB - e muito além do gênero "cantoras-compositoras brasileiras" -, Céu sai do Brasil e vai até a Jamaica, enchendo suas canções de reggae e dub, criando um clima absurdamente sensual. A banda que acompanha a cantora é um primor; nada parece fora do lugar. E os detalhes não apenas se acumulam, eles enriquecem as canções. É o teclado "sinistro" de Cangote, é a introdução Portisheadiana de Nascente, é o vocal dividido entre três cantoras em Bubuia. Esse é um disco pra relaxar sozinho, e também é um disco pra se ouvir durante o sexo. E prova que música boa é mesmo universal: que o dia meu amigo escocês que ficou apaixonado pelas canções de Céu!
ouça >> Cangote, Bubuia, Nascente, Grains de Beauté
melhor momento >> Quando Céu canta, logo no início da canção: "Fiz minha casa no teu, can-gooote!", com pausas orgásmicas


#01 >> XX, The xx
Custei a achar uma forma de descrever o som do The xx. Lendo um site inglês, encontrei uma definição foda: é o Portishead disfarçado de banda indie rock. Na verdade toda definição limitaria demais o som da banda. XX é todo cheio de silêncios, canções construídas com o mínimo de elementos, 11 músicas feitas para se ouvir no escuro - sozinho ou acompanhado. Num ano cheio de bons discos de duetos vocais, os jovens Romy Madley Croft e Oliver Sim dialogam como amantes-contra-o-mundo, dizendo "I think we're superstars" de uma forma tão despretensiosa que é um assombro. As letras da banda são simples mas certeiras - basta conferir a maneira como os amantes declaram seu amor mútuo em Islands: "I am yours now, so now I don't ever have to leave". Já em Heart Skipped a Beat, o relacionamento já chegou ao fim, e em uma frase básica os (ex)namorados se desnudam: "Sometimes I still need you". XX, dentro de suas modestas pretensões, soa único como Funeral do Arcade Fire; o que une as duas bandas, na verdade, é um total comprometimento com a honestidade emocional.
ouça >> VCR, Crystalised, Islands, Heart Skipped a Beat
melhor momento >> Em Islands, Oliver Sim canta: "That bridge is on fiiiiiiire". Heaven, I'm in heaven

domingo, 20 de dezembro de 2009

2009 em cinco clipes


3 Words, Cheryl Cole
(direção: Vincent Haycock)


Telas partidas à la Brian dePalma + influência de Lady GaGa + trucão do plano-sequência = MEGA WIN. (claro, o fato de a música ser uma das melhores coisas pop do ano não atrapalha em nada)


Strawberry Swing, Coldplay
(direção: Shynola)


The stuff dreams are made of. Não vi nada mais bonito em matéria de clipes em 2009.


Wrong, Depeche Mode
(direção: Patrick Daughters)


Patrick Daughters, o senhor tem uma mente doentia. Continue assim.


Longing for Lullabies, Kleerup
(direção: X)


It's a sad sad world. :-(


Zero, Yeah Yeah Yeahs
(direção: Barney Clay)


A metáfora "o mundo é um palco" deixando de ser metáfora. Delícia sair dançando assim pela rua, em cima dos carros, pelas calçadas. No meu mundo perfeito isso seria rotina.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

À Prova de Morte (Death Proof, 2007)

Trecho de um email que mandei para um amigo sobre o filme. Ele já tinha visto, e amado. Ah, se você não viu o filme, melhor não ler se não quiser estragar as surpresas:



"Por onde começar? Pode ser que seja mesmo o melhor filme do Tarantino. E isso é incrível, já que é o filme menos ambicioso dele, e o mais mal-falado. Mas é que me deu a impressão de que este é o filme que o Tarantino sempre quis fazer: um filmão B. Só que, ao contrário do "Planeta Terror" (que eu não gosto tanto quanto achei que gostaria), o Tarantino coloca comédia mas, ao mesmo tempo, faz você se importar com os personagens. Sei que são filmes totalmente diferentes, "Planeta Terror" é trasheira pura, mas pra mim fica muito claro quem é o diretor mais talentoso.

Fiquei MUITO tenso com as duas perseguições - a primeira é absurda, chocante, aquela coisa de mostrar a cena repetidas vezes, cada vez mostrando a morte de uma com detalhes. Foi uma das cenas de acidente mais chocantes que já vi, na verdade (isso porque eu já estava em choque com a morte da Rose McGowan, aquilo é muito violento). Fiquei MUITO triste com a morte da "Butterfly" - a roda passando na cara dela é uma cena que eu nunca mais vou esquecer, tipo o Edward Norton pisando na cabeça do negro em "A Outra História Americana".
E a segunda perseguição, o que é aquilo? Como assim você não me avisou que era um filme de terror?? Fiquei desesperado com a Zoe Bell lá no capô do carro, pelo amor de Deus! Meu coração estava na boca. Melhor sequência da carreira do Tarantino? Tem uma chance boa, viu. Rivaliza com as melhores lutas do Kill Bill.

Ainda bem que depois fica maravilhosamente engraçado, com as meninas perseguindo o Stuntman Mike. O que é aquele final?? Quando a Zoe Bell deu o chute final nele, ele caiu e apareceu "The End" na tela, todo mundo bateu palma!! E quando apareceu a Rosario Dawson dando o verdadeiro chute final, um amigo disse a definição perfeita: FATALITY! Amei.

Isso sem contar a cena de lap dancing. É magnífica mesmo. Sensacional. Não acreditei quando li que, no "Grindhouse" original, ela não aparece - é um "missing reel". Que bom que pude ver essa versão estendida, aquilo é muito bom! Aquela menina é esquisita mas é sexy pra caralho."