quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Artista (The Artist)



O Artista não é essa maravilha toda que estão dizendo por aí. Não falo isso só pra criar polêmica ou ser do contra. Fui ao cinema querendo amar o filme, e já amando a ideia de um filme mudo ser o favorito ao Oscar em pleno 2012. Ainda acho uma ideia sensacional. Pena que o roteiro de O Artista não tenha muita coisa a dizer.

O filme fala sobre um astro do cinema mudo que acaba trombando (literalmente) com uma fã afoita. A fã demonstra ter todos os requisitos para ser uma estrela - talento, beleza, carisma - e acaba mesmo virando uma estrela. No entanto, com o advento do cinema falado, a carreira dela sobe loucamente enquanto a dele chega ao fundo do poço. Basicamente, o filme é isso.

É um fiapo de história. O filme teria que ser cheio de charme (uma coisa Guilherme Arantes) para realmente ser sensacional. Infelizmente, o charme está quase todo concentrado na primeira parte, onde os dois artistas protagonizam cenas maravilhosas - como o baile de pernas. A partir da decadência do astro, o filme perde fôlego.



E se é para falar das dificuldades enfrentadas pelos astros do cinema mudo nesse momento da história, dois outros filmes falaram do assunto de modo muito melhor - Crepúsculo dos Deuses e Cantando na Chuva. Ok, provavelmente é injusto comparar um filme mudo com duas obras que utilizam diálogos/canções de forma fenomenal. Mas, para mim, O Artista ficou parecendo mais um experimento do que um grande filme. É um filme mudo feito para espectadores que nunca assistiram um filme mudo. Quase não há ousadias estéticas, o que é um pecado.

Mas é até estranho falar mal de um filme tão doce. Jean Dujardin e Bérénice Bejo estão espetaculares. E tem UGGIE! Uggie é o cachorro, e ele dispensa comentários. A trilha é ótima, fotografia idem. Mas melhor filme do ano? De forma alguma. Como diz um amigo meu, O Artista é fofolete ponto.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Histórias Cruzadas (The Help)



Histórias Cruzadas é um filme cheio de problemas. O principal deles é a forçação de barra para fazer o espectador chorar em alguns momentos. Não tenho nada contra um bom melodrama, mas desde que a manipulação seja bem-feita (e isso pode acontecer tanto num filme super americano como Tomates Verdes Fritos quanto em Dançando no Escuro de Lars von Trier). Mas aqui, a coisa é feia em alguns momentos. O diretor Tate Taylor utiliza em dois momentos o recurso de "personagem-cheio-de-inocência-contra-uma-superfície-de-vidro", o olhar desamparado, as mãos naquela clássica pose de Titanic.

O outro grande problema do filme, na minha opinião, é a caracterização da vilã Hilly (Bryce Dallas Howard). Hilly é a racista-mor da cidade de Jackson, mas o filme exagera tanto na vilania dela que a deixa parecendo personagem de desenho animado. Ela é pior que Gargamel, Esqueleto e Diabolim juntos. É unidimensional até a medula, sem um pingo de complexidade. O filme chega ao ponto completamente infantil de colocar uma ferida na boca dela para explicitar a "decadência" da personagem (como se uma dona de casa rígida como Hilly se fosse permitir sair assim!)
A coitada da Bryce não tem muito o que fazer. Em uma cena, no entanto, ela consegue criar mágica com o material raso: no último confronto com Viola Davis, os olhos de Bryce simplesmente se apagam. Ficam opacos, como se já não houvesse vida na personagem. É um momento louvável.



Mas este também é um filme cheio de coisas boas, como figurinos lindos, fotografia, e algumas cenas realmente cômicas. Mas é o elenco que joga a obra lá no alto, provocando momentos que grudam na memória. Se a adorável Emma Stone não tem muito o que fazer - ela é o espectador, e em boa parte do tempo apenas assiste ou reage aos acontecimentos -, o trio de mulheres indicadas ao Oscar é mesmo um assombro.

Octavia Spencer comanda a ação com seus olhos esbugalhados e lábios retos, quase sempre num muxoxo de pouco caso. É meio que o alívio cômico da história, mas acreditamos nela nos momentos dramáticos também. A maior parte do drama, no entanto, está mesmo nas mãos (e olhos, e todo o resto) mais que capazes de Viola Davis. A atriz enche sua Aibileen de calor. Quando ela precisa ficar impassível, em frente aos patrões, ela é impecável. Por pequenos detalhes sabemos o que ela pensa. E quando ela tem a chance de falar, sai de baixo. Deus me livre se o Oscar não for de Viola.

Mas confesso que meu coração foi arrebatado pela mais que adorável Celia, interpretada por Jessica Chastain. Celia é toda boa vontade e toda otimismo, sempre querendo fazer o bem, mesmo que às vezes não saiba como. Muito provavelmente uma mulher como ela simplesmente não existiria na época em que o filme se passa. Mas essa é uma obra de ficção, e Jessica faz de Celia a personagem mais adorável do cinema desde Amy Adams em Retratos de Família. Em determinado momento, Aibileen diz: "Devemos perdoar nossos inimigos". Celia vai além: ela simplesmente não consegue ver inimigos. Utópica, claro, mas nem por isso menos incrível.