domingo, 4 de abril de 2010

Atraídos Pelo Crime (Brooklyn's Finest)

No mesmo dia em que assisti esse Atraídos Pelo Crime, revi Cabo do Medo do Martin Scorsese. É um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, e pra mim revê-lo é sempre um prazer. É testemunhar um show de técnica, de edição, enquadramentos, enfim, tudo que já comentei quando falei de Ilha do Medo. E por isso mesmo, foi engraçado perceber que até mesmo um gênio como Scorsese pode utilizar um clichê: aquele recurso batido de alguém acordar de um pesadelo levantando da cama de repente. Claro que, num filmão como Cabo do Medo, isso não importa nada. Mas me fez pensar em como, após anos e anos vendo montanhas de filmes, pequenas coisas nos filmes vão se tornando irritantes - e outras pequenas coisas saltam aos olhos, por serem maravilhosamente reais.



Neste Atraídos Pelo Crime, também há o recurso do personagem que acorda de um pesadelo quase pulando da cama (Alguém já acordou assim de um pesadelo? Eu não). Mas também há umas coisinhas que talvez só alguém chato como eu tenha reparado. Ou, em vez de chato, alguém que passou a valorizar detalhes realistas. Eu explico. Em uma cena de sexo entre o personagem de Richard Gere e sua amante, ele fica dizendo, "Devagar. Devagar. Aí! Aí, aí". Exatamente como na vida real. Não é apenas uma sucessão de gemidos, e os dois amantes gozando juntos (detesto quando as pessoas gozam exatamente ao mesmo tempo em uma cena de sexo). Ele "orienta" a mulher bem como um homem faria numa trepada. Isso sem contar que, quando a cena começa, a mulher (que está por cima dele) movimenta-se de um jeito bem real, e por isso mesmo muito sensual. Parece mesmo que ele está dentro dela, e ela está ditando o ritmo da transa.

É uma cena que não chega a ser de vital importância pra história, mas me fez gostar um pouco mais do filme. Filme esse que tinha tudo pra ser genérico e esquecível - mas é bem competente. Há todos os lugares-comuns de filmes policiais: o oficial que está pra se aposentar, o policial infiltrado e que tem dúvidas sobre sua missão, o policial que está quase pendendo pra vida do crime. Mas o trio de atores - Gere, Don Cheadle e Ethan Hawke - é profissional e carismático. Don Cheadle, em especial, injeta uma dignidade invejável no seu personagem (assim como em tudo que faz; mesmo que ele interpretasse um pedófilo estuprador e assassino, suspeito que seria um pedófilo estuprador e assassino cheio de dignidade). Junte isso a um clímax que me lembrou Magnolia (porque todas as tramas acabam se encontrando num mesmo lugar, e não porque chova sapos), e Atraídos Pelo Crime torna-se um caso agradável de filme que, mesmo não sendo excelente, supera bastante as expectativas. Devagar, devagar. Aí. Aí.