quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Os melhores discos de 2009

2009 me pareceu mais um ano de grandes singles do que de grandes álbuns. Sinal dos tempos? Sei que foi um ano com dezenas de músicas brilhantes (principalmente no pop), mas poucos discos consistentes do início ao fim. De qualquer forma, os dez listados aí embaixo grudaram nos meus ouvidos durante todo o ano.

(Quase fizeram parte dessa lista: Annie e seu Don't Stop; Manners do Passion Pit; In Love & War da Amerie.)



#10 >> Far, Regina Spektor
Regina Spektor parece estar trilhando o perigoso caminho seguido por Tori Amos: após discos excelentes, que primavam pelo não-convencional, seguem-se discos cada vez mais pop, até a irrelevância quase total (no caso de Tori). Uma boa parcela dos fãs torceu o nariz para os sons mais convencionais deste Far, mas a estranheza da cantora ainda está intocável nas letras. Já na faixa de abertura, ela pega o clichê de dois amantes com "corações de pedra" e o transforma numa canção de amor original, ao dizer que "saíram faíscas de tanto bater os corações um no outro". E continuam presentes nas canções de Regina aqueles momentos universais mas quase nunca cantados em música, como no primeiro verso de Eet: "It's like forgetting the words to your favorite song". E ainda tem Dance Anthem of the 80's, a música mais feliz, que me provocou mais êxtase, mais alegria, mais tudo em 2009. A canção do ano.
ouça >> Eet, Folding Chair, Laughing With, Dance Anthem of the 80's
melhor momento >> Em Dance Anthem of the 80's: "It's been a long time since before I been touched; now I'm getting touched all the time. And it's only a matter of whom, and it's only a matter of when". É luxúria, é esperança, é amor, é tudo junto nesses versos


#09 >> Whisper House, Duncan Sheik
Era de se esperar que, após o sucesso do musical Spring Awakening (com músicas compostas por ele), vencedor do Tony e aclamado pela crítica, o próximo disco de Duncan Sheik fosse recebido com expectativa. Aparentemente não foi o caso: Whisper House passou quase em branco. É uma pena, já que essa coleção de canções (supostamente a base para um novo musical escrito por Duncan) mostram, mais uma vez, que Mr. Sheik é um dos melhores no seu campo. A participação da vocalista Holly Brook em quase todas as canções dá um clima de narrativa ao disco, como se os dois estivessem contando uma história ao ouvinte. As duas vozes formam um belo casamento, nunca dramatizando em excesso as letras (que, em sua maioria, falam de fantasmas). Quando Holly surge na animada We're Here to Tell You, é como se ela fosse a voz da serenidade se contrapondo à voz urgente de Duncan. Whisper House é cheio de grandes momentos como esse, de uma grande colaboração.
ouça >> It's Better to be Dead, We're Here to Tell You, And Now We Sing, Take a Bow
melhor momento >> A guitarra com efeitos de We're Here to Tell You, que dá um belo ar "old school" à música


#08 >> Veckatimest, Grizzly Bear
Falar de uma banda como o Grizzly Bear, pra mim, é muito difícil. Essa é uma daquelas bandas adoradas nas rodas de indie rock, idolatradas. E eu nunca tive muita vontade de ouvi-los. Mas os elogios a Veckatimest foram tantos que me bateu a curiosidade. Sorte a minha, já que é um disco sensacional. Mas qual a propriedade que eu tenho pra falar deles? Nenhuma. Só posso dizer que, desde o refrão da primeira música, Southern Point, a turma de Ed Droste me pegou de jeito. O clima épico e ao mesmo tempo intimista das canções têm um apelo irresistível (e o melhor exemplo talvez seja a já citada faixa de abertura). Como não cair de amores pelo tecladinho e as vozes em uníssono do início de Two Weeks? E o refrão grandioso de All We Ask? Demorou, mas eu me rendi completamente ao Grizzly Bear. Melhor que seja tarde do que continuar no escuro.
ouça >> Southern Point, All We Ask, Two Weeks, Cheerleader
melhor momento >> As palminhas de Cheerleader, absolutamente irresistíveis


#07 >> Declaration of Dependence, Kings of Convenience
Eis uma banda que não se envergonha em fazer mais do mesmo. Declaration of Dependence não vai angariar nenhum novo fã pra banda; mas isso é necessariamente um problema? O caso é que eles continuam fazendo o que sabem fazer de melhor: canções simples, voz-e-violão, com harmonias vocais incríveis e letras mais incisivas do que a música aparentemente "fofa" pode sugerir. "Explique-me mais uma vez: quando eles matam é crime, e quando você mata é justiça?", dispara a dupla ao final da magnífica Rule My World. Declaration of Dependence é cheio dessas disparidades agridoces: um violão acaricia uma letra acusadora, uma mão constrói um castelo enquanto a outra mão destrói outro. Um hiato de cinco anos separa este disco do anterior, Riot on an Empty Street; a dupla de branquelos da Noruega fez falta na música.
ouça >> Me in You, Rule My World, Peacetime Resistance, Riot on an Empty Street
melhor momento >> Como escolher entre os violões do início de Me in You e de Rule My World?


#06 >> Break Up, Pete Yorn & Scarlett Johansson
Nunca acompanhei a carreira do Pete Yorn (apesar de adorar For Nancy, do primeiro disco dele), e acho o disco anterior da Scarlett Johansson quase inaudível em algumas partes. Mas eis que os dois se juntaram, deixaram as pretensões de lado e realizaram um disquinho simples, curto (9 canções) e grudentíssimo - daqueles de acabar e começar a ouvir tudo de novo. Mesmo que Break Up seja muito mais Pete do que Scarlett - em algumas canções, ela se limita a fazer backing vocals -, a junção dos dois consegue atingir o objetivo do projeto: realizar uma espécie de "atualização" do disco conceitual sobre dois amantes no processo de fim de relacionamento. Tudo bem que a parte final do disco é bastante melancólica, mas a dupla também nos brinda com pérolas pop como Relator e Search Your Heart. É o disco perfeito pra uma viagem com amigos: todo mundo animado no início, todo mundo mais pensativo e calmo ao final.
ouça >> Search Your Heart, Blackie's Dead, Shampoo, Someday
melhor momento >> Scarlett cantando "Don't blame me for your troubles, ooh ooh ooh" em Search Your Heart (e derretendo corações de qualquer ser humano vivo)


#05 >> It's Blitz!, Yeah Yeah Yeahs
O Yeah Yeah Yeahs mudou. Não sei se pra melhor ou pra pior; pra mim, eles continuam tão bons quanto sempre foram. Mas as guitarras insanas cederam espaço para teclados (também insanos); Karen O. aquietou um pouco (ainda bem que foi só um pouco) e está cantando de modo mais emocionado do que nunca - Skeletons, comovente, é o fim do relacionamento da clássica Maps. No fim das contas, It's Blitz! calou a boca de quem achava que a banda ia ficar mais domesticada, e ganhou novos fãs com sua inédita sofisticação musical ("sofisticação" é uma palavra meio fresca para um disco como esse, na verdade). Os hinos pra pista continuam perfeitos, como comprovam Zero e Heads Will Roll; e se eu acho que Hysteric poderia ter um pouco mais de peso, bom, o mundo inteiro discorda. Com este terceiro disco, o Yeah Yeah Yeahs prova ser a banda mais consistente do indie rock.
ouça >> Zero, Heads Will Roll, Soft Shock, Skeletons
melhor momento >> "Skeleton, me" - e as lágrimas surgem...


#04 >> Music for Men, The Gossip
Que delícia esse disco! Dá vontade de parar de escrever aqui mesmo. Music for Men é isso: uma delícia. Sucessão de músicas boas, pop, divertidas e grudentas. É o balanço perfeito entre o espírito punk do grupo e uma pegada mais "mainstream" que o sucesso acaba trazendo. Beth Ditto continua cantando que é uma barbaridade, e os agudos invejáveis estão todos lá; mas a banda soa ainda mais afiada, coesa, destruindo com riffs de guitarra brilhantes e ótimas viradas de bateria (For Keeps é uma proeza de construção de música: um baixo foderoso aqui, depois um riff simples, uma bateria, e pow!). As letras são perfeitas para os freaks em geral citarem e se divertirem nas conversas com os amigos: "This is the last time I love and let love!", "Love is a four letter word that should never be heard!" E, ainda assim, Beth soa confiante o tempo todo.
ouça >> Love Long Distance, Vertical Rhythm, For Keeps, Four Letter Word
melhor momento >> A guitarrinha de Vertical Rhythm: sei lá por que motivo, mas sempre me lembra corridas de Fórmula 1


#03 >> Cover, Joan as Police Woman
Este terceiro disco de Joan Wasser, somente de covers (duh), foi vendido apenas nos shows da cantora durante este ano. O fato de eu simplesmente amar um projeto tão pequeno comprova que 1) Joan é, pra mim, a melhor artista que surgiu nesta década e 2) Tudo que ela faz, ela faz muito bem. Cover vai de Britney Spears a Sonic Youth, passando por T.I. e Jimi Hendrix. O que esperar de um disco assim? Uma mistura de galhofa (em relação a Britney, por exemplo) e veneração (ao cantar uma canção de David Bowie). Nem um, nem outro: este é um disco absolutamente peculiar - começando pela capa sensacional. Sacred Trickster, do Sonic Youth, é diversão pura baseada somente em palmas e bumbo (que ousadia tirar a marca registrada do Sonic, as guitarras!); já Overprotected, da princesinha louca do pop, tem um clima de respeito aos sentimentos adolescentes da letra sem ser ridiculamente séria. Cover soa familiar, estranho e único, assim como as composições próprias de Joan.
ouça >> Overprotected, Whatever You Like, She Watch Channel Zero, Sacred Trickster
melhor momento >> O arranjo "minimalista" de Sacred Trickster consegue ser ainda melhor que as guitarras de Thurston Moore e Kim Gordon


#02 >> Vagarosa, Céu
Mesmo com muitos elogios, nunca tinha dado muita bola para o primeiro disco da Céu. Mas desde o momento em que ouvi pela primeira vez esse Vagarosa, nossa! Que disquinho sensacional! Passando longe das amarras da MPB - e muito além do gênero "cantoras-compositoras brasileiras" -, Céu sai do Brasil e vai até a Jamaica, enchendo suas canções de reggae e dub, criando um clima absurdamente sensual. A banda que acompanha a cantora é um primor; nada parece fora do lugar. E os detalhes não apenas se acumulam, eles enriquecem as canções. É o teclado "sinistro" de Cangote, é a introdução Portisheadiana de Nascente, é o vocal dividido entre três cantoras em Bubuia. Esse é um disco pra relaxar sozinho, e também é um disco pra se ouvir durante o sexo. E prova que música boa é mesmo universal: que o dia meu amigo escocês que ficou apaixonado pelas canções de Céu!
ouça >> Cangote, Bubuia, Nascente, Grains de Beauté
melhor momento >> Quando Céu canta, logo no início da canção: "Fiz minha casa no teu, can-gooote!", com pausas orgásmicas


#01 >> XX, The xx
Custei a achar uma forma de descrever o som do The xx. Lendo um site inglês, encontrei uma definição foda: é o Portishead disfarçado de banda indie rock. Na verdade toda definição limitaria demais o som da banda. XX é todo cheio de silêncios, canções construídas com o mínimo de elementos, 11 músicas feitas para se ouvir no escuro - sozinho ou acompanhado. Num ano cheio de bons discos de duetos vocais, os jovens Romy Madley Croft e Oliver Sim dialogam como amantes-contra-o-mundo, dizendo "I think we're superstars" de uma forma tão despretensiosa que é um assombro. As letras da banda são simples mas certeiras - basta conferir a maneira como os amantes declaram seu amor mútuo em Islands: "I am yours now, so now I don't ever have to leave". Já em Heart Skipped a Beat, o relacionamento já chegou ao fim, e em uma frase básica os (ex)namorados se desnudam: "Sometimes I still need you". XX, dentro de suas modestas pretensões, soa único como Funeral do Arcade Fire; o que une as duas bandas, na verdade, é um total comprometimento com a honestidade emocional.
ouça >> VCR, Crystalised, Islands, Heart Skipped a Beat
melhor momento >> Em Islands, Oliver Sim canta: "That bridge is on fiiiiiiire". Heaven, I'm in heaven

Um comentário:

Pablito disse...

Ultimamente tenho achado que The XX é a melhor banda do mundo, de tão goxxtoso que é ouvi-los!

Meu sonho secreto é namorar o Oliver Sim. Pronto, falei