quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Medianeras



Quando A Rede Social estreou nos EUA, o critico da Rolling Stone americana, Peter Travers, escreveu uma resenha definindo a obra como "o filme de uma geração". Fico meio por entender a frase - já que A Rede Social não aborda, na prática, o efeito que as redes sociais tiveram em nossas vidas (e esse é justamente um dos diferenciais do filme de David Fincher).

Medianeras está longe de ser o filme de uma geração, mas sei que muita gente vai se identificar com Martín e Mariana, os vizinhos-que-não-se-conhecem e que passam a maior parte do tempo online. Aqui, sim, estamos falando dos efeitos práticos do excesso de vida online na vida real. Mas um dos maiores méritos do diretor Gustavo Taretto é não cair no clichê da nostalgia dos tempos antigos: "Ah, a internet isolou todos nós. Que vida triste a nossa. Que saudade dos contatos ao vivo!". Non. O filme simplesmente mostra a vida da geração atual como é. Ou melhor, mostra a vida de duas pessoas dessa geração atual. Nem todo mundo precisa se incluir nesse retrato.

O filme tem um ar melancólico sim, mas não é pesado em momento algum. O que mais sufoca é a profusão de apartamentos em Buenos Aires. Tantas quitinetes, tão poucas janelas! Medianeras explora muito bem os espaços urbanos: as fachadas dos prédios, as plantas que insistem em crescer nas rachaduras, as próprias "medianeras" em si (aquela parede "desperdiçada" que cada edifício tem). É um paraíso para os arquitetos - uma espécie de "Manhattan" do hemisfério sul. Não é à toa que o próprio filme de Woody Allen dá as caras em uma cena.



É um prazer ver um filme com tantas soluções visuais bacanas. As vitrines montadas por Mariana são um show à parte. De certa forma o filme me lembrou Cashback, na maneira como um espaço urbano limitado é palco para uma torrente de criatividade. E se pelo trailer Medianeras parecia ser somente um monte de cenas visualmente bonitas, o longa como um todo casa muito bem imagens, narração em off e diálogos.

No fim das contas é mais um filme no estilo "eles foram feitos pra ficar juntos". Mas a aproximação dos dois não parece forçada, ao contrário de tantos filmes por aí. Com uma última cena que não tem diálogo algum, Medianeras termina mostrando como as coisas da vida são: olhos nos olhos, um sorriso aqui, um sorriso ali em resposta. A vida virtual está aí pra ajudar a gente a ter isso, e não pra substituir. Gustavo Taretto é esperto e sabe disso.

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