terça-feira, 27 de dezembro de 2011

5 discos de 2011


05 >> Metals, Feist
Nunca fui fã de Feist. Pra mim, The Reminder, que fez a moça estourar no mundo inteiro, é um disco com ótimos singles e várias músicas chatas. Eu ficava especialmente incomodado com a qualidade de gravação de algumas canções, que pareciam ter tirado a voz da cantora do fundo de uma lata. Graças a Deus isso não acontece em Metals. É um álbum coeso, redondo, tranquilo - sem levar em consideração, claro, a explosão no refrão de "A Commotion" ou os maravilhosos crescendos de "The Circle Married The Line" e "Comfort Me". Não há nenhum vestígio de "1 2 3 4"; nenhuma música daqui poderia ser utilizada num comercial da Apple. Pode ser que Feist veja sua base de fãs diminuída, mas a impressão nítida é que ela fez exatamente o disco que queria. Comercialmente um passo atrás, artisticamente dois passos à frente.
melhores músicas >> Comfort Me, Caught a Long Wind, The Circle Married The Line
melhor momento >> Em Comfort Me, Feist e seu coro de backing vocals viram pássaros: "Eeh hee hee! Eeh hee hee hee hee, hee hee!"


04 >> Talk That Talk, Rihanna
Passei 2011 inteiro esperando um grande disco de pop. Por mais que eu goste de algumas músicas nos discos de Beyoncé e Lady GaGa, por exemplo, nada lançado no ano me seduziu por inteiro. Eis que chega Rihanna e, de supetão, me arrebata. Na verdade durante todo o ano fui sendo seduzido pela garota - o clipe de "S&M", um show ótimo em BH, o comportamento gente-como-a-gente no Brasil -, mas ainda faltava um disco inteiro bom. Talk That Talk é esse disco. Junto com um par de músicas dançantes impecáveis ("We Found Love", um dos melhores singles do ano, e "Where Have You Been"), o disco tem sample de The xx ("Drunk on Love"), aromas caribenhos ("You Da One") e muita safadeza. É no auge da sacanagem, aliás, que Rihanna me surpreendeu: na curtíssima "Birthday Cake", fica claro a versatilidade vocal de RiRi. Ela pode ser dominadora num verso e falsamente inocente no outro. Talk That Talk é a coroação de Rihanna como a mais divertida das divas do pop feito nos EUA.
melhores músicas >> Where Have You Been, We Found Love, Drunk on Love
melhor momento >> "And it's not even my birthday...", em Birthday Cake. Dá pra visualizar até o dedinho na boca. Safada!


03 >> Wounded Rhymes, Lykke Li
Youth Novels, o disco de estréia de Lykke, tem vários momentos sensacionais: "Little Bit", "I'm Good I'm Gone". Mas também sofre de uma overdose de fofura, principalmente na voz dela - que às vezes é similar à de um bebê. O que o sucesso pode fazer com uma pessoa! Neste Wounded Rhymes, Lykke está muito mais durona, tanto musicalmente quanto na própria voz. É um disco cheio de tambores, bateria e percussão. Junte-se isso a órgãos de filme de terror e o resultado é uma sonoridade única; é como se Lykke estivesse musicando um faroeste moderno com elementos de suspense. A voz da cantora evoluiu barbaridades: ela pode ser autoritária em "Get Some", assustadora ao stalkear amantes em "Jerome" e "I Follow Rivers", melancólica em "Unrequited Love". Mas é em "I Know Places" que Lykke consegue ser melhor ainda: ao menos durante uma música, a sueca paira acima dos mortais com seu amor.
melhores músicas >> I Know Places, Youth Knows No Pain, I Follow Rivers
melhor momento >> "I'm your prostitute, you gon' get some!" em Get Some. É praticamente uma ameaça


02 >> Blood Pressures, The Kills
Midnight Boom, o disco anterior da dupla, é das melhores coisas do indie rock da década passada. É rápido, é dançante, é sexy, é absurdamente "repetível". Em Blood Pressures eles botam o pé no freio, mas só um pouquinho. Alguns elementos surpreendem: uma percussão de bolinha de ping-pong (!) em "Nail in My Coffin" e "Heart is a Beating Drum"; a guitarra que soa como uma enxada em "Satellite"; o interlúdio de cabaré em "Wild Charms". O sex appeal continua todo lá, com Jamie Hince e Alison Mosshart compondo canções como o Mickey e a Mallory Knox (de Assassinos por Natureza) da música. E para provar que são humanos, também há espaço pra melancolia (na magnífica "Pots and Pans", que encerra o disco com nostalgia). O The Kills é uma banda rara: eles parecem cool até a medula, e realmente são cool até a medula no que importa: em disco.
melhores músicas >> Baby Says, Heart is a Beating Drum, Pots and Pans
melhor momento >> A guitarra incrível de Baby Says, a tradução perfeita de "pôr o pé na estrada"


01 >> The Deep Field, Joan as Police Woman
Todo mundo que me conhece sabe do meu amor por essa mulher. Em 2011 ela virou de vez minha artista favorita da atualidade: foi disco, show e a oportunidade inesquecível de conversar com ela ao vivo (ela foi toda a simpatia que eu imaginava). Em The Deep Field, seu terceiro disco de inéditas, Joan Wasser surge mais otimista, declarando de cara, sem desespero: "I want you to fall in love with me". É uma ordem sim, mas uma ordem suave, determinada. O clima é suave e esquisito ao mesmo tempo: maravilhosas linhas de baixo se misturam com vocais masculinos que sussurram ameaçadores ("Flash") ou repetem o título da música o tempo todo ao fundo ("Human Condition"). É essa mistura que faz de Joan uma artista única. Junte-se a isso todo um cuidado com as letras, que seguem sendo honestas como nunca em relação ao amor. Talvez eu calhe de estar numa fase onde versos como "Cause stop doesn't mean a thing in love / I've only started to enjoy it" me digam mais do que a maior parte das músicas feitas atualmente. Que bom que eu tenho alguém como Joan para traduzir meu sentimento em música.
melhores músicas >> Human Condition, The Action Man, Kiss The Specifics
melhor momento >> Em Kiss The Specifics, Joan mistura em uma frase doses exatas de otimismo, ingenuidade e segurança: "I'll never be careful what I wish for / Cause I what wish for is always right"

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