segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um Dia (One Day)



É comum um bom livro ser mal adaptado para o cinema. Pode-se culpar o diretor, uma escolha ruim de elenco, ou simplesmente a falta de talento ao transpor as palavras para a tela. Mas e quando se conta com uma boa diretora, uma dupla de atores carismáticos e uma adaptação assinada pelo próprio autor do livro? Onde botar a culpa da ruindade?

Este é o caso de Um Dia, que em vários momentos parece estar escrevendo uma cartilha de como NÃO fazer um bom romance. Não li o livro de David Nicholls, mas foram tantos os elogios à obra (vindos inclusive de bons amigos) que acredito que o livro seja mesmo bacana. O filme, no entanto, pratica um desserviço com o livro: minha vontade de lê-lo caiu pra quase zero.

Os problemas começam nos primeiros minutos. A ideia principal é a seguinte: um casal de estudantes passa uma noite/madrugada juntos em 15 de julho de 1988. A partir daí, o filme mostra os encontros e desencontros da dupla nos anos seguintes, sempre no dia 15 de julho. O problema é que o primeiro encontro entre Dexter (Jim Sturgess) e Emma (Anne Hathaway) não é promissor, não é cativante, não é charmoso. É qualquer coisa. Ela está obviamente interessada nele, e ele parece ter vontade de dar uns tapinhas na cabeça dela, como se faz com um cachorro que queremos que vá embora logo. Então por que eles continuam se encontrando, como se houvesse rolado uma química incrível desde o início? O filme não mostra isso.

A partir daí, vamos conhecendo melhor Emma e Dexter. Emma é boazinha, quer ser escritora, mas vive frustrada em Londres trabalhando num restaurante mexicano trash. Dexter é um cafajeste simpático, womanizer, que apresenta um programa sem noção na TV britânica. Qual deles é o mais cativante? Surpresa! A Emma de Anne Hathaway é tão apagada que eu me peguei esperando pelas cenas com Dexter. Ao menos a mãe dele é a sempre brilhante Patricia Clarkson, na melhor atuação do filme.

Um Dia vai caminhando capenga, e não cumprindo nada do que deveria fazer: não emociona. É bem pouco engraçado. Alguns dias 15 de julho são absolutamente dispensáveis. Mas pelo menos o filme passa rápido. Isso até o final inacreditável. Sério. Ou melhor, não tem como levar aquilo a sério. É feito pra emocionar, mas eu (e umas meninas que estavam na sessão) caímos na gargalhada. É muito ruim. É forçado e trash. Novela mexicana perde.

E isso tudo é mais chocante quando se pensa que a diretora dessa anomalia é Lone Scherfig, dos excelentes Educação e Italiano para Principiantes. O que aconteceu? O que ficou lost in translation? Não faço ideia. Só sei que, nesse caso, o fracasso de crítica e de público foram muito merecidos. Não perca seu tempo vendo Um Dia.

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