quarta-feira, 21 de março de 2012

Shame



Tanta coisa já foi dita sobre o sexo e a nudez de Shame, e não tem como escapar de falar mais um pouco disso: sim, Michael Fassbender aparece nu várias vezes. Sim, ele é bem dotado, como disse Charlize Theron. Carey Mulligan também aparece como veio ao mundo. E as cenas de sexo são o oposto de excitantes: são clínicas, frias, longas e sem erotismo. Mas essa é a intenção. Se as cenas passam alguma coisa, é tristeza.

Não poderia ser diferente com Brandon (Michael Fassbender, incrível), um viciado em sexo. E como todo viciado, a palavra "prazer" não é a mais adequada para descrever o que ele sente. Ele transa (e se masturba frequentemente) para suprir uma necessidade incontrolável. E suas transas são totalmente desprovidas de sentimento. O seu apartamento, meticuloso e impecável como o de Patrick Bateman (o "psicopata americano" em si), é um reflexo perfeito do dono: lindo, arrumado, bem-cuidado, e com zero de calor.



É nesse contexto que surge a irmã de Brandon, a cantora Sissy (Carey Mulligan). Sissy é o oposto de Brandon, completamente necessitada de amor e carinho. A relação entre os dois é complicada e tensa. Em uma cena incrível, Brandon assiste Sissy cantar uma versão bastante lenta de "New York, New York". Brandon tenta parecer estóico, mas lágrimas rolam do seu rosto. Quando sua irmã se senta à mesa, ele disfarça, não deixando que ela veja a emoção dentro dele. Brandon é um enigma, e somente Sissy parecer conseguir penetrar um pouco a sua couraça impecável.

E o filme não responde nada. Há algo de incestuoso entre os dois? O que aconteceu no passado deles? O que significa o olhar de Brandon na última cena? O espectador é que responde tudo. Ou não - algumas pessoas saíram da sessão antes de o filme acabar. Eu, quando saí do cinema, não consegui deixar de me sentir desconfortável. E triste.

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