domingo, 4 de março de 2012

Drive



Drive é todo "style over substance", como dizem nos Estados Unidos. A substância, por assim dizer, já foi vista e contada em inúmeros filmes anteriores. Mas o estilo é tanto, e tão impactante, que valeria por dez filmes. A atmosfera do filme é tão "cool" que o espectador sai do cinema (que é onde o filme deve ser visto) encharcado de "coolness". A atmosfera do filme transborda da tela e inunda o espectador. Ele pode até sair andando de modo mais misterioso, quem sabe, como o personagem de Ryan Gosling.

O filme do diretor Nicolas Winding Refn é perfeito para a geração contemporânea, de Tumblr e Facebook: praticamente toda cena pode virar um GIF incrível, ou uma foto que vai render comentários elogiosos nas redes sociais. Drive, surpreendentemente, é o filme que melhor captura o zeitgeist atual. E isso é um mérito fantástico.

O elenco principal, escolhido a dedo, inclui um par de atores jovens lindos e competentíssimos, e que passam longe da atmosfera celebridades + paparazzis + festas: Gosling e Carey Mulligan. Temos dois coadjuvantes oriundos das séries de TV mais elogiadas do momento: Bryan Cranston (de Breaking Bad) e Christina Hendricks (de Mad Men). E temos Albert Brooks, que no melhor estilo Tarantino se desfaz de sua persona mais conhecida (no caso dele, a de comediante) e realiza um trabalho surpreendente. Sábias escolhas do diretor - que tinha consciência da necessidade de atores igualmente talentosos e carismáticos, cujo trabalho seria preencher personagens tão pouco aprofundados que podem, cada um, ser resumidos em poucas palavras: dublê taciturno de cenas de perseguição. Mãe bondosa cujo marido está preso (há uma expressão ainda melhor em inglês: damsel in distress). E por aí vai.



O talento do diretor Refn é inegável, em inúmeros aspectos. O som é um deles: poucas vezes no cinema recente o silêncio - e a trilha sonora - foram utilizados de forma tão eficiente. As cenas de tensão são construídas da forma como deveriam ser sempre: aos poucos, de forma lenta, até explodir numa violência explicitíssima que acaba parecendo plenamente justificada. Trememos com a fúria do filme.

É fácil entender por que Drive tornou-se tão adorado na internet. É perfeito, nesse sentido. Coitado do internauta que não gostar do filme! Corre o risco de, ao menos por um tempo, tornar-se um pária nas redes sociais.

Costumo dizer que há filmes que eu amo e filmes que eu admiro. Drive é um filme para ser admirado? Sem dúvida alguma. É um filme para ser amado? Honestamente, não sei. Preciso ver de novo, depois que a poeira (e o hype) baixarem. Às vezes a bagagem que acompanha um filme é tão grande que é preciso um tempo, uma distância, para que o filme fale por si só. Drive é assim.

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